A CPI da Covid retoma os trabalhos na próxima semana e até agora não se debruçou em nenhuma denúncia de corrupção em Estados e municípios durante a pandemia. O caso mais notório é o do Consórcio Nordeste, que comprou, por R$ 48 milhões, 300 respiradores que nunca foram entregues.
A empresa envolvida na negociação é a Hempcare, que comercializa cosméticos à base de maconha. “Depoimentos da dona dessa empresa, Cristiana Prestes, ao que tudo indica de fachada, apontam o envolvimento no esquema de dois ex-ministros do governo Dilma, segundo ela ‘irmãos de alma'”, afirma a Oeste o senador Eduardo Girão.
Os dois ex-ministros petistas supostamente envolvidos , segundo o parlamentar, são Carlos Gabas e Edinho Silva. Gabas, que teve o pedido de convocação negado pela CPI, é ex-secretário-executivo do Consórcio Nordeste e foi ministro da Previdência Social. Edinho Silva é o atual prefeito de Araraquara e foi ministro da Secretaria de Comunicação Social.
O grupo majoritário da CPI argumenta que o caso foge da competência do colegiado, pois não envolve repasses da União. Girão rebate: “Analisamos centenas de documentos enviados à CPI. Não restam dúvidas de que em alguns dos nove Estados do Nordeste foram utilizados recursos federais nesse escândalo corretamente chamado de ‘calote da maconha’.”
“Dos 17 membros da CPI, dez senadores são representantes do Nordeste e 82% são do Norte e Nordeste. Coincidência? Não”, diz o senador. “Penso que, em vez de procurar a verdade dos fatos, eles estejam fazendo a blindagem deliberada dos governadores e prefeitos visitados pela Polícia Federal. Isso porque, certamente, após esses depoimentos, sigilos devem ser quebrados, escancarando toda a verdade.”
Segundo o senador, no dia em que a CPI negou, por 6 votos a 4, a convocação de Carlos Gabas, o senador Jader Barbalho (MDB-PA), pai do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), pouco atuante na comissão, foi chamado às pressas para votar remotamente.
Girão afirma ainda que o relator da CPI, Renan Calheiros, havia dito em uma rede social que se declararia impedido caso houvesse votação envolvendo seu Estado. “Fiz uma questão de ordem para que o relator não votasse. Renan fez ‘cara de paisagem’ e, mesmo o Consórcio Nordeste envolvendo diretamente o Estado de Alagoas, ele vergonhosamente votou contra a convocação de Gabas, aquele ministro que levava a presidente Dilma para andar de moto”, diz Girão.
O senador tem a expectativa de conseguir aprovar a convocação de alguns nomes envolvidos no caso dos respiradores, como Bruno Dauster, que foi exonerado da Casa Civil do governo da Bahia, e Cristiana Prestes, proprietária da Hempcare.
“Esses requerimentos foram retirados de pauta por seis vezes consecutivas. Mas vou continuar insistindo, junto com o valente cidadão de bem brasileiro, que se mobiliza a cada dia querendo saber toda a verdade, e não uma parte da verdade”, finaliza.