O atual vice-presidente de Taiwan, William Lai, venceu as eleições na ilha realizadas neste sábado (13/1).
Lai é conhecido por sua forte oposição à China e defesa de aproximação com os Estados Unidos. O governo da China considera Lai um "encrenqueiro", "divisionista", "linha-dura" e "muito pior do que [a atual presidente] Tsai [Ing-wen]".
Lai é médico e já ocupou quase todos os principais cargos políticos de Taiwan. Ele é o vice-presidente da ilha desde 2020, lidera a coalizão Pan-Verde e apoia uma identidade taiwanesa forte e abrangente.
Neste sábado, seu rival mais próximo nas urnas, o oposicionista Hou You-yi, do Kuomintang (KMT), admitiu a derrota. O KMT havia feito campanha prometendo melhores laços com Pequim e paz no Estreito de Taiwan.
Taiwan é uma ilha democrática com governo próprio – mas é reivindicada pela China continental e não é reconhecida como país pela grande maioria das nações.
Em seu discurso de vitória, minutos depois do reconhecimento de seus rivais, Lai disse: "Quero agradecer ao povo de Taiwan por escrever um novo capítulo na nossa democracia. Mostramos ao mundo o quanto valorizamos a nossa democracia. Este é o nosso compromisso inabalável. Taiwan alcançou uma vitória para a comunidade das democracias."
Lai disse também que o povo de Taiwan "resistiu com sucesso aos esforços de forças externas para influenciar as nossas eleições".
"Confiamos que apenas o povo de Taiwan tem o direito de escolher o seu próprio presidente", disse Lai.
Sobre a China continental, Lai disse em seu discurso de vitória que está "determinado a proteger Taiwan da contínua ameaça e intimidação da China" e manterá o status quo através do Estreito.
Manter a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan é uma responsabilidade importante, disse ele, acrescentando que o seu governo "usará o diálogo para substituir o confronto” nas suas relações com a China.
Segundo o correspondente da BBC, Rupert Winfield-Hayes, a vitória de Lai é uma demonstração de que os eleitores "não se deixaram influenciar pelo argumento de que um voto em Lai é um voto a favor da guerra – que foi o que Pequim havia dito". Essa também foi a mensagem do candidato do KMT durante a campanha.
Mais de 90% das urnas já foram apuradas. Taiwan tem mais de 19 milhões de eleitores.
Análise de Celia Hatton, Editora de Ásia e Pacífico da BBC
Nos últimos oito anos, Pequim tem criticado fortemente a atual líder de Taiwan, Tsai Ing-wen, mas a preocupação agora é que o recém-eleito Lai vá tensionar ainda mais as relações com Pequim do que na gestão de Tsai.
Os seus apoiadores argumentam o contrário: o perigo real, dizem, é uma presidência do KMT. Eles temem que os líderes comunistas da China não se contentariam apenas com os laços mais estreitos propostos pelo KMT e eventualmente tentariam unificar Taiwan e China.
Taiwan ocupa um lugar vital no mundo por várias razões – há poucas outras democracias jovens que demonstrem um compromisso tão forte com eleições livres e justas como a ilha.
Além disso, se a indústria de semicondutores de Taiwan fosse ameaçada ou suspensa, os chips de silício que Taiwan fornece para muitos dos nossos computadores, telefones, carros e equipamento médico também se esgotariam.
Taiwan é também um dos pontos críticos no centro da relação EUA-China.
É por isso que tantos estavam ansiosos aguardando os resultados eleitorais – muita coisa está em jogo.