Dois ex-assessores do deputado federal André Janones (Avante-MG) afirmam que, além de promover esquema de rachadinha em seu gabinete, o parlamentar promovia assédio moral, tratando a equipe com xingamentos e ofensas.
A Folha teve acesso a prints de conversas de um suposto grupo de WhatsApp do gabinete de Janones em que assessores são chamados de "desgraçados", "vermes", "burros" e "incompetentes", entre outros xingamentos.
A assessoria de Janones afirmou que os prints não são verídicos. Luiz Paulino e Fabrício Ferreira de Oliveira -que trabalharam no gabinete de Janones de fevereiro de 2019 a novembro de 2021 e setembro de 2022, respectivamente-- afirmam que eles são reais.
Nas mensagens que os dois ex-assessores dizem ser reais, o perfil atribuído ao deputado reclama uma manifestação da equipe sobre um assunto que não é especificado. "Falem desgraçados filhos de uma puta, abram a boca de vocês, vocês só abrem a boca na hora de receber o salário?".
Em outro trecho, o mesmo perfil faz novos xingamentos: "Bando de burros, incoemtebtes [sic], vocês são ruins, são frios, só querem o dinheiro de vocês, me cerquei do pior tipo de pessoa que existe neste mundo. Eu quero todos vocês na rua".
O suposto assédio se repete em outras mensagens: "Quando eu fizer uma pergunta é pra responder. (...) Vocês só respondem depois que xingam vocês de desgraçados?".
"Esses prints já foram usados em diversos contextos, umas três ou quatro vezes. Não são verídicos, não existe qualquer assessor que afirme a veracidade. São sempre os mesmos prints", disse a assessoria de Janones.
As suspeitas de rachadinha contra Janones - que integrou a linha de frente da campanha de Lula (PT) nas redes sociais, em 2022 - vieram a público após o site Metrópoles revelar áudio de 2019 em que o parlamentar, em seu primeiro mandato como deputado, informou a assessores que eles teriam que devolver parte dos salários para que ele pudesse reconstruir seu patrimônio.
A reunião de 2019 em que Janones fala sobre a devolução dos salários durou cerca de 45 minutos. A gravação divulgada pelo site Metrópoles também foi obtida pela Folha de S.Paulo.
"Não é [corrupção], porque o 'devolver salário' você manda na minha conta e eu faço o que quiser. São simplesmente algumas pessoas que eu confio e que participaram comigo em 2016 [nas eleições municipais, em que ele saiu derrotado], e que eu acho que elas entendem que realmente o meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 mil. Eu acho justo que essas pessoas também hoje participem comigo dessa reconstrução disso", afirma o parlamentar na gravação.
Nas redes sociais e em entrevistas nestas segunda e terça, o deputado reconheceu a autenticidade da gravação, mas negou ter promovido rachadinha, afirmando que pediu contribuições a amigos, que se viriam a tornar seus assessores, para quitar dívidas que ele e esses futuros assessores assumiram em conjunto nas eleições de 2016.
Disse ainda que não considera sua atitude ilícita e que, de qualquer forma, a devolução de parte dos salários dos assessores acabou não ocorrendo por orientação jurídica que recebeu.