O Estadão estuda ações legais em resposta à campanha de difamação promovida contra seus jornalistas.
“A reação furiosa orquestrada nas redes sociais contra jornalistas do Estadão em nada diminui a qualidade da apuração da reportagem sobre as intimidades da dama do tráfico com altos funcionários públicos. Ela mostra apenas a incapacidade de certos setores de conviver com o jornalismo independente”, afirmou o diretor executivo de jornalismo do Grupo Estado, Eurípedes Alcântara.
“Todo um ódio foi disseminado a partir de um print de um formulário de denúncia preenchido com informações falsas. Para agravar, trata-se de um ataque que, mesmo anônimo, virou matéria. Não é a primeira vez que uma mulher jornalista é alvo de uma rede antidemocrática. Infelizmente, pode não ser a última”, disse Andreza.
O ataque em massa motivou críticas de jornalistas de vários veículos e foi condenado por profissionais de diferentes áreas.
“Esperava-se que a prática de destruir reputações em vez de debater os argumentos tivesse sido interrompida depois da última eleição. Infelizmente, isso não ocorreu. A melhor maneira de lidar com as divergências é com mais liberdade de imprensa, não menos. Preocupa a perseguição de pessoas em vez do debate sobre as ideias e os fatos”, disse o economista Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper e ex-Secretário de Política Econômica do primeiro governo Lula. Lisboa procurou o Estadão para prestar solidariedade ao jornal e a Andreza.
“Com essa campanha, com direito a foto da Andreza Matais e engajamento de superinfluenciador nacional, oficialmente recomeçam as campanhas governamentais para assediar e queimar jornalistas (no feminino), certo? Só que sob nova direção”, escreveu no X o cientista político Wilson Gomes.
Luciane esteve pela primeira vez no Ministério da Justiça em março, em uma reunião com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos. Ela voltou dia 2 de maio, para reunião com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
Na reportagem que revelou o caso, publicada em 13 de novembro, o ministério de Flávio Dino confirmou a presença da “dama do tráfico” na comitiva para ambas as reuniões, mas afirmou que era “impossível” o setor de inteligência detectar previamente a presença dela.
Horas depois, diante da repercussão do caso, Vaz assumiu para si a culpa pela entrada de Luciane no ministério. “Se teve algum erro, esse erro foi de minha parte por não ter feito uma verificação mais profunda das pessoas que eu iria receber”, disse, em entrevista coletiva. “(O ministro Flávio Dino) me chamou a atenção, disse que eu deveria tomar mais cuidado com as pessoas que recebo”, prosseguiu.
Ainda no dia 13, o ministério elaborou portaria alterando as regras de acesso à sede. As novas normas exigem: envio de nome e CPF dos participantes de reunião ou audiência com antecedência mínima de 48 horas; reuniões ou audiência devem ser solicitadas por e-mail para fim de avaliação; todo visitante deve ser atendido na recepção do Palácio da Justiça ou dos anexos para identificação e orientação.
“Não adianta tentar reescrever essa história. Fatos são fatos e esses fatos foram confirmados pelos próprios envolvidos, tanto que um deles se desculpou publicamente e o Ministério da Justiça mudou as regras de entrada de visitantes depois da primeira reportagem”, afirmou David Friedlander, diretor de governança editorial e qualidade do Estadão.
Além do Ministério da Justiça, Luciane esteve na Câmara dos Deputados e no Conselho Nacional de Justiça. No início de novembro, participou de evento em Brasília sobre prevenção e combate à tortura com passagens e diárias custeadas pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
“As reportagens são irretocáveis na origem, apuração e execução; são inegavelmente relevantes. Revelam o perigoso encontro entre o relaxo na triagem de quem tem acesso à administração federal e a vontade do crime organizado de interferir na política. Ao invés de trabalhar para mudar essa realidade inconveniente, opta-se, mais uma vez, pelo caminho dos ataques baixos e orquestrados contra quem fez - e continuará fazendo - seu trabalho corretamente”, disse Leonardo Mendes Júnior, diretor de Redação do Estadão.