Com mais de 30 anos de carreira política, o carismático Sergio Massa buscará neste domingo (19) realizar o sonho de ser presidente da Argentina, um verdadeiro desafio para quem também é ministro da Economia em meio à crise mais grave das últimas décadas.
Massa enfrentará o libertário de extrema direita Javier Milei no segundo turno presidencial. As pesquisas preveem empate técnico.
Figura de destaque no governo peronista de centro-esquerda da Argentina, Massa eclipsou quase totalmente o presidente Alberto Fernández, que apareceu poucas vezes na mídia durante esta campanha.
É a segunda vez que Massa concorre à presidência, depois da derrota em 2015. E decidiu fazê-lo enquanto ocupa o cargo de ministro, com a ideia de que "a campanha é a gestão".
Ele assumiu o cargo de ministro em um momento complicado, após as abruptas renúncias dos seus antecessores Silvina Batakis e Martín Guzmán, e depois foi elogiado pelos seus colegas.
"Sergio tomou posse três dias antes de partirmos de helicóptero", declarou o líder pró-governo Jorge Ferraresi, em referência à saída precipitada de Fernando de la Rúa em 2001, durante a pior crise da Argentina.
- Um grande vendedor -
Aos 51 anos e adepto do diálogo, Massa fez acordos com empresários, sindicatos e com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas não conseguiu controlar a inflação, principal preocupação dos argentinos.
Advogado de formação, tem a capacidade de mostrar as dificuldades como conquistas, pelo menos entre seus apoiadores.
"Mesmo que não tenha um plano, ele improvisa de forma constante e suas promessas não são cumpridas, ele sempre passa a ideia de que está no controle da situação e que encontrará uma saída", disse Diego Genoud, biógrafo não autorizado de Sergio Massa.
Uma habilidade que seus rivais criticam. "Ele é um cara perigoso justamente pela capacidade de iludir as pessoas. É capaz de fazer um discurso com uma naturalidade e eficácia discursiva que faz com que acreditemos nele, mesmo que seja totalmente contrário aos fatos. Tendemos a acreditar em Massa", afirmou o deputado da oposição Fernando Iglesias.
Massa "só está interessado no acúmulo de poder", disse.
- Apaixonado -
Sempre com sorriso no rosto, Massa fala devagar, como se estivesse em um 'Ted Talk'.
No entanto, em mais de uma ocasião ele se descreveu como um "apaixonado" e destacou a herança italiana que seus pais imigrantes lhe transmitiram.
"Sou super apaixonado, para o bem ou para o mal", explicou em entrevista, na qual revelou ainda que teve fortes brigas com vários familiares.
Em seguida, garantiu que não aguenta mais o mesmo nível de intensidade que tinha na juventude: "Os golpes moldam você", disse.
- Amigos, inimigos e família -
Em sua carreira política, Massa transformou amizades em inimizades e vice-versa, diversas vezes. Ele deu o salto para a política nacional em 2013 com a "Frente Renovador", uma força dentro do peronismo que se apresentou como uma alternativa ao governo de Cristina Kirchner (2007-15), de quem foi chefe de gabinete e que hoje o apoia novamente.
Em 2015 foi candidato à presidência, mas ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições, vencidas pelo direitista Mauricio Macri no segundo turno.
Antes de criar a "Frente Renovador", entre 2007 e 2008, e depois entre 2011 e 2015, foi prefeito da cidade de Tigre, nos arredores de Buenos Aires, pela aliança da então presidente Kirchner. Porém, alguns anos depois ele se distanciou dela e chegou a afirmar que "Cristina é o passado" ou que "ela deveria estar presa". Em 2019 aliou-se novamente à ex-presidente, eleita vice-presidente naquele ano.
"É difícil encontrar consistência em Massa. (Mas) ele tem a capacidade de estar sempre bem colocado e ser cobiçado no mercado do poder", disse Genoud à AFP.
Massa nasceu e cresceu na periferia da província de Buenos Aires e começou no partido liberal UCEDÉ no final dos anos 1980. Em meados da década de 1990 voltou sua militância para o peronismo bonaerense com a ajuda das líderes políticas Cristina Camaño e Marcela Durrieu, sua sogra.
Durrieu o apresentou à filha, Malena Galmarini, com quem se casou e teve dois filhos. "Ela os juntou, deve ter gostado dele como namorado de Malena", lembrou Fernando Galmarini, sogro de Massa e ex-líder peronista.