Ontem (30.10), na convenção estadual do PSDB cearense que reconduziu o vice-prefeito de Fortaleza Élcio Batista à presidência da sigla, Ciro Gomes (PDT), ao lado de Tasso Jereissati (PSDB), de Roberto Cláudio (PDT) e do prefeito da capital José Sarto (PDT), disse que atualmente a política é "sinônimo de ladroeira, de mentira, de privilégio, de que não vai ser cumprida" e que o "Ceará está sendo destruído daquele caminho que nós trilhamos. Está sendo DESTRUÍDO PELA TRAIÇÃO. Está sendo DESTRUÍDO PELO DESCOMPROMISSO".

Ciro falou também que atualmente "no Ceará não se realiza uma obra pública sem ter de pagar propina. Uma obra pública sequer se realiza em nosso estado sem pagar propina para os donos do poder que estão aí".

Será que o governo municipal Sarto está incluso nessa última afirmação? Claro que não, pois é a reeleição de Sarto a solução para tirar Ciro da UTI da política.

Quatro vezes candidato à presidência da República, Ciro amargou ano passado um quarto lugar, ficando apenas com 3,04% dos votos válidos (3.599.287) após Lula e o PT o trucidarem através da campanha pelo voto útil. Ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, Ciro agora é apenas um ex-presidenciável que sequer contou com a unidade do seu partido em relação à sua pretensão ao Planalto.

Condenado em vários processos e com dívidas a pagar, Ciro também vê a sua relação com os irmãos Gomes se desgastar, principalmente com Cid Gomes (PDT) com quem trava uma batalha visceral que levará ao esvaziamento do partido brizolista no Ceará.

Aliado do PT por mais de duas décadas, Ciro foi apunhalado justamente em detrimento de sua postura contrária à política de hegemonização do ex-aliado partidário. Derrotado também na sucessão do governo cearense, amarga dissabores políticos.

Sua aliança com o PSDB cearense é o que lhe livra do isolamento mais profundo e que o motiva para o objetivo que, uma vez alcançado, manterá a sua imagem de liderança: a reeleição de Sarto à Prefeitura de Fortaleza. Caso seja derrotado pelo lulapetismo nessa batalha, sua morte como liderança nacional estará assinalada. Daí a batalha encarniçada dentro do PDT cearense. A permanência de Cid e seu grupo significa a marginalização de Sarto e uma rasteira na esperança de Ciro.

Um intricado jogo político com articulações de bastidores, teatralizações, narrativas destrutivas, correlação de forças e propaganda para as massas apontará para uma reafirmação de Ciro como uma liderança política pulsante ou para sua morte enquanto representante de um poder afirmativo capaz de se constituir enquanto alternativa política para o Brasil.