Dentre as vítimas há duas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma delas tem condição não-verbal e ao ouvir o nome da 'tia do colégio' já teria associado à mulher ao ato de tirar a fralda e pegar nas partes íntimas.
Outra criança da mesma sala chegou a passar por exame de corpo de delito, que deu positivo para 'ato libidinoso'. A reportagem entrou em contato com mães de três vítimas, que confirmaram as denúncias dos abusos e pedem "apuração rigorosa" acerca das ocorrências.
A reportagem apurou que a diretora e proprietária do estabelecimento foi ouvida na delegacia e confirmou ter demitido a suspeita. A direção da creche foi procurada pela reportagem, mas não atendeu a ligação nem respondeu a mensagem até a publicação desta matéria.
"O caso está a cargo da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca)", disse a PCCE em nota. A reportagem questionou se a suspeita foi ouvida e presa, mas não teve resposta.
As denúncias apontam que os crimes teriam acontecido ao longo do mês de maio deste ano. O caso já é de conhecimento do Ministério Público do Ceará (MPCE), que informou que o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NUAVV) tomou as providências iniciais.
A reportagem optou por preservar o nome da escola neste primeiro momento, já que a investigação está no início.
A proprietária e diretora da escola prestou depoimento na Dceca e disse que ao saber das denúncias decidiu "desligar a auxiliar". Ela disse à Polícia que de 2009 a 2014 esta mesma mulher já foi funcionária da creche e que nunca havia recebido reclamações dela.
A diretora falou às autoridades que após os relatos 18 alunos foram desmatriculados da instituição e que ela não tinha anteriormente informado os órgãos de proteção sobre os supostos abusos, porque uma mãe pediu sigilo.
Ouvidas pela reportagem, as mães contam que passaram a desconfiar dos abusos quando os filhos chegavam em casa demonstrando algum tipo de dor.
"De madrugada meu filho chorou de dor. Eu achei que a fralda tava cheia, mas não era. Vi que a pintinha dele estava machucada. Então eu comuniquei na escola que talvez não conseguisse levar ele, que ele talvez não tivesse conseguindo fazer xixi e que a gente já tava procurando médico. Na segunda-feira quando ele foi ao urologista o médico perguntou quem dava banho e disse que tinha forçado um pouquinho. Passaram os dias e eu soube de uma colega que tinha tirado a filha do colégio de repente. Ela contou que a menina foi abusada. Então eu fui conversar com o meu filho e ele me contou tudo" (sic), disse uma das mães.
"Ele disse que ela brincava com ele de carrinho, mostrando movimento pra frente e pra trás, pra cima e pra baixo, mexendo na pintinha dele. Fizemos o exame de corpo de delito e deu positivo para ato libidinoso", declarou a mãe.
A mãe de outro menino que consta nos boletins enquanto vítima disse: "meu filho contou que ela brincava de casinha com ele. Quando perguntei como era a brincadeira, ele pegou no pintinho".
Quando procuradas pela reportagem, as mães disseram ter sabido da demissão da suspeita, mas dizem não ter recebido apoio da escola.
Outro relato é da mãe de uma menina. A mulher diz que no dia 23 de maio foi dar banho na filha e viu que o xixi dela "estava rosado". Quando perguntou à menina se alguém havia pegado nela, a criança disse que sim.
"Ela me contou que a tia pegou, mostrou que foi com o dedo. Ali eu já não tinha mais dúvidas. Eu fiquei angustiada. Ela me disse que sentia dor, ardia para fazer xixi. No outro dia eu me reuni com a coordenadora da escola e contei que minha filha relatou. Eu desabei a chorar no carro. Levei minha filha na médica e ficou constatada uma vermelhidão", disse a mãe de uma das vítimas.
O inquérito segue em andamento.