O Diário do Nordeste teve acesso ao laudo pericial da Pefoce, que determinou o parentesco entre o cadáver e Jamili. Conforme o documento, os achados genéticos são resultantes do vínculo genético, pois é uma hipótese 1,7 bilhão de vezes mais provável. A análise foi feita pela Coordenadoria de Análises Laboratoriais, em um laudo para determinar perfis genéticos e identificação humana.
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) ainda apura a ocorrência como crime de ocultação de cadáver e falsidade ideológica, por meio da Delegacia Municipal de Massapê, município vizinho.
A mãe contou à reportagem que soube do achado por meio de um perfil de notícias locais, e resolveu ir até a delegacia, porque havia abortado dias antes, no mesmo hospital. Ela denuncia que foi negligenciada durante sua estadia na unidade, e pede Justiça. A mulher e a família são assistidos pelo advogado Dácio Vasconcelos.
No dia 2 de maio, a dona de casa, que estava com 20 semanas de gestação, teve um sangramento que terminou em um aborto. Ela conta que após o fato, já no hospital municipal, uma técnica de enfermagem disse que o feto "estava bem formado, mas bem pequeno", o que contrariaria a versão futura do hospital após o achado no esgoto.
Já após o caso ser denunciado na delegacia pela família, a unidade de saúde teria dito à irmã de Jamili que "entendia a dor dela", mas que não havia mais feto, e sim somente coágulos de sangue.
"Nenhum médico e nem enfermeiro veio falar comigo. Passei a noite lá e no outro dia nem recebi alta, só fui embora porque um funcionário viu minha situação e disse que eu poderia ir embora", indica a mulher.
Nesta quarta-feira (5), mais de um mês após perder a filha, Jamili e o marido puderam enterrá-la em Meruoca, após passarem pela segunda dor, de saber que ela foi encontrada em um esgoto. Eles souberam do exame de DNA na segunda, mas os procedimentos policiais só puderam liberar o corpo para enterro dias depois.
"Eu me senti muito mal porque eu não tive suporte do hospital. Eu não tive o bebê, mas ela era minha filha, não era uma coisa que você podia jogar fora. É dificil você saber essas coisas. Peço justiça porque não é um bicho bruto para ser jogado", desabafa.
Jamili estava na sua terceira gestação. Ela já é mãe de outros dois filhos, e agora aguarda resolução do caso com as autoridades policiais.
No dia 9 de maio, dois dias após o feto ser achado durante um "serviço de manutenção de rotina", o Hospital Chagas Barreto emitiu uma nota veiculada no Instagram da Prefeitura de Meruoca. Eles classificaram como um "acontecimento chocante e objeto de nossa total atenção e preocupação".
O hospital informou que estava em "plena colaboração com as autoridades competentes, fornecendo todas as informações necessárias para a investigação policial".
"Estamos trabalhando incansavelmente para apurar os fatos com a máxima urgência e transparência. Uma investigação interna já foi iniciada para entender a sequência de eventos que levou a este triste achado", disse nota.
Na noite desta quarta, o Diário do Nordeste ligou para o hospital municipal, mas foi informado que a direção não estava disponível no momento. Esta matéria será atualizada mediante retorno da unidade.