“A equipe da papiloscopia vem até o hospital e faz a coleta para ver se consta alguma coisa na base de dados do Ceará. Quando o paciente é do estado ou tem um RG já atualizado, esse trabalho fica mais fácil. E aí eles dão uma devolutiva em forma de ofício. Em duas ou três horas, a gente já tem o retorno dizendo se o paciente consta na base de dados ou não”, esclarece Macêdo.
Mesmo após a atuação da Pefoce, há pacientes que não possuem nenhum registro na rede estadual de dados, demandando um verdadeiro trabalho de “investigação”. Foi o que aconteceu com Carlos Antônio.
Após sofrer um AVC, Carlos Antonio Gomes foi encaminhado do município de Barro, a mais de 300 quilômetros da Capital, para o HRC, em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, em 3 de abril. Ele estava inconsciente e sem nenhum tipo de documento.
“Ele foi transferido e não tinha identificação. Oficiamos a cidade de Barro, onde não foi identificado nada dele lá. Solicitamos papiloscopia e não constava nada na base de dados. Houve uma melhora clínica dele, porém ele não conseguia verbalizar, mas ele conseguia gestos”, relata Jefferson Macêdo.
A partir daí, a equipe do Serviço Social começou um trabalho que se estendeu por vários dias com o paciente, que passou a afirmar ou negar informações com as mãos. O objetivo era identificar seu nome e a cidade de origem. Após uma série de tentativas, com nomes aleatórios, ele sinalizou positivamente para “Carlos”.
O mesmo método foi utilizado para descobrir o município dele. O primeiro passo nesse sentido foi entender que Carlos não era do Ceará, e sim da Paraíba. Depois de várias cidades paraibanas serem citadas, o paciente sinalizou de forma afirmativa para Cajazeiras.
Com o nome de Carlos e sua possível cidade, iniciou outra fase do trabalho, que envolveu o Serviço Social do HRC, a Pefoce e o Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC/PB). Então, o órgão paraibano informou o nome completo e de onde ele era, o que permitiu a articulação do reencontro entre o paciente e seus familiares.
Isso fez com que Olindrina perdesse as esperanças de revê-lo. Ao encontrar o filho, ela não conteve a emoção. “Agora eu tô me sentindo bem feliz, aliviada demais. Agradeço muito a todos que cuidaram tão bem dele”, comentou a mãe de Carlos, no dia do reencontro.
Tinciane Medeiros explica que o Serviço Social também atua para reaproximar famílias que tiveram laços fragilizados. Ela lembra o caso de um homem que estava há 40 anos em situação de rua. Ele chegou à unidade de saúde em estado crítico e sem documentação. A equipe teve que aguardar a melhora clínica dele para iniciar a intervenção, que buscou promover o reencontro com familiares.
“É um sentimento de dever cumprido, no sentido de que a gente conseguiu intermediar e localizar com poucas informações que a gente tinha e foi em busca da nossa rede de apoio. Apesar de muitas vezes essas pessoas terem vínculos fragilizados com seus familiares, nesse momento de enfermidade, a gente consegue muitas vezes aproximar”, defende a gestora do Serviço Social do HRC.
Outro exemplo desse tipo de trabalho vem do Serviço Social da Casa de Cuidados do Ceará (CCC), que atua por meio de escuta qualificada, orientações acerca dos direitos sociais, gestão de conflitos, reuniões e suporte a familiares. “Mais da metade dos pacientes atendidos pela CCC encontra-se em vulnerabilidade social ou em situação de risco, com vínculos fragilizados ou rompidos com suas famílias”, explica a assistente social Gilda Cavalcante.
No Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), em Messejana, 11 pacientes sem nenhum tipo de identificação foram auxiliados somente em 2023.
“Até o momento, tivemos sucesso em quase todos os casos. Outro detalhe, muitas vezes o paciente sem identificação vivia em situação de rua e quando identificado, não detém os documentos, daí, começa o outro trabalho de solicitação de emissão dos documentos junto à Receita Federal, ao Tribunal Regional Eleitoral e ao Caminhão do Cidadão da Secretaria de Proteção Social do estado do Ceará. Os documentos são fundamentais para garantir a cidadania do paciente, além de serem necessários para a inserção em programas e benefícios sociais”, diz Sâmia Bessa, assistente social do HCWA.