O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, espera que a IX Cúpula das Américas estabeleça novas bases com os governos da América Latina e do Caribe. Mas o evento começa na segunda-feira (6) sobre areia movediça, devido às ameaças de boicote de países como o México e as tensões relacionadas com a crise migratória na região.
Faltando apenas dois dias para sua abertura do encontro em Los Angeles, cidade que abriga a maior comunidade hispânica dos Estados Unidos, o anfitrião ainda não revelou a lista de governantes convidados, que se tornou "a lista de divergências". A insinuação de Biden há algumas semanas, de que não convidaria Cuba ou os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, abriu a "caixa de Pandora".
México, Bolívia, Guatemala, Honduras e o bloco caribenho de 14 nações colocaram em dúvida sua participação caso esses países fossem excluídos. Washington alega que o motivo seria o não cumprimento da Carta Democrática Interamericana. Não seria a primeira vez que Cuba participaria de uma dessas cúpulas. O representante de Havana esteve presente nas duas últimas edições.
Após uma certa hesitação, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, confirmou sua participação no encontro e terá, em algum momento do evento, sua primeira reunião bilateral com Biden. Os dois líderes discutirão questões bilaterais e globais, insegurança alimentar, resposta econômica à pandemia, saúde e aquecimento global, já que "todas as prioridades da cúpula são áreas nas quais o Brasil desempenha um papel incrivelmente importante", declarou Juan Gonzalez, principal conselheiro da Casa Branca para as Américas.
No plano diplomático, a guerra na Ucrânia estará presente como pano de fundo das conversas e permitirá que Biden encontre alguns líderes separadamente.
"O drama"
O presidente americano está preocupado particularmente com a ausência do líder mexicano, Andrés Manuel López Obrador. "Nossa relação com o México é e continuará sendo positiva" e o presidente "quer pessoalmente" que López Obrador compareça, insistiu esta semana Juan Gonzalez.
Devido ao problema migratório, os Estados Unidos precisam de López Obrador e ele "vê que a posição de desafiar Biden o faz aparecer como um líder latino-americano", comentou à agência AFP Michael Shifter, professor da Universidade de Georgetown.
"Todo o drama sobre quem vai participar e quem não vai, e por quais razões, mostra que há uma grande desconexão" e que os Estados Unidos "perdem influência especialmente na América do Sul, mas também no México", acrescentou o especialista. Shifter nota, por outro lado, que as empresas americanas seguem muito influentes na região, assim como a China, que se tornou um parceiro sólido para os países da região.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, e o da Argentina, Alberto Fernández, se uniram ao chamado para que todos os países participem da reunião.
Caravana de migrantes
Na segunda-feira, no sul do México, uma caravana de 11 mil migrantes venezuelanos planeja seguir em direção aos Estados Unidos. O tema da imigração pode afetar Biden nas eleições de meio de mandato previstas em novembro, nas quais o democrata pode perder a maioria no Congresso. Washington espera chegar a um acordo sobre uma Declaração Migratória, para integrar os migrantes nos países de acolhimento e administrar melhor a crise.
O desenvolvimento econômico é outra preocupação dos países da América Latina e do Caribe, mas exige o desembolso de recursos e resta saber o que os Estados Unidos podem propor.
"Não vejo o governo aparecendo com fortes compromissos financeiros", mas sim "competindo em igualdade de condições com pelo menos um certo número de parceiros", como Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Canadá, Chile, Uruguai e Colômbia, apontou Manuel Orozco, diretor do Programa de Migração, Remessas e Desenvolvimento do Diálogo Interamericano, em uma reunião virtual com a imprensa.
Benjamin Gedan, do Programa Latino-americano do Centro de Estudos Woodrow Wilson, estima que "o barômetro real para esta cúpula será se os Estados Unidos oferecem acesso significativo a novos mercados, empréstimos e assistência externa para apoiar a recuperação".
O sucesso da cúpula, para Rebecca Bill Chavez, presidente do Diálogo Interamericano, poderá ser mensurado caso o encontro sirva "como uma plataforma de lançamento para um compromisso regional e focar em questões que encontrem eco" entre as nações participantes.
(Com informações da AFP)