Dissidentes, ativistas e opositores do governo de Cuba preparam protestos contra o presidente Miguel Días-Canel para ter início no país nesta segunda-feira,15. Havana não autorizou a realização do movimento e afirmou que ele vem sendo organizado por agentes ligados aos Estados Unidos.
As manifestações devem colocar à prova o mecanismo de segurança cubano. Apoiadores do protesto dizem temer a possibilidade de repressão policial contra quem for às ruas.
Mas, enquanto a data do protesto não chega, o governo e seus críticos travam uma “guerra” de comunicação nas mídias sociais, na imprensa estrangeira e na mídia estatal – com direito a supostos episódios de espionagem por agentes duplos, grampos telefônicos e organizações supostamente extremistas que relembram os tempos da Guerra Fria.
Os objetivos do protesto de segunda-feira são difusos, mas deve haver pressão pela queda do governo comunista de Días-Canel, por reformas democráticas e pela libertação de prisioneiros políticos.
Manifestações de grandes proporções são raras em Cuba devido à forte repressão policial e a eficiência do serviço secreto cubano. Mas a melhoria de qualidade das redes de internet por celular no país possibilitaram que opositores começassem a se organizar, segundo afirmou a Oeste Juan Antonio Blanco, diretor executivo da organização não governamental Fundação Pelos Direitos Humanos em Cuba, com sede nos Estados Unidos.
Segundo ele, sua organização apoia os protestos, mas não participa da articulação do movimento.
Em 11 de julho deste ano, milhares de cubanos saíram às ruas para protestar contra a falta de liberdades individuais e a crise econômica agravada pela pandemia e pelo embargo americano. Houve choques, nos quais manifestantes atiraram pedras e as forças de segurança utilizaram gás lacrimogêneo. Foram os maiores protestos no país desde a revolução de 1959.
Segundo Blanco, cerca de 600 pessoas teriam sido detidas e não se sabe quantas continuam presas. “Você pode imaginar sair na rua e, por simplesmente pegar seu telefone celular e filmar uma passeata, alguém chega, te bate e te condena a sete anos na prisão?”, questionou. Manifestantes foram condenados a até dez anos de prisão.
Ele afirmou que desde setembro do ano passado o número de pequenos protestos se multiplicou na ilha. Seriam até 300 por mês. O embate de narrativas entre o governo e seus opositores tem se focado em quem está organizando o movimento.
Blanco afirmou que as manifestações são espontâneas e as lideranças que surgem são jovens artistas e alguns participantes de movimentos religiosos. Essas pessoas teriam se cansado da falta da liberdade no país e decidido protestar espontaneamente.
Essas lideranças não pertenceriam às organizações anti-governo que há décadas se opõe a Havana baseadas em território americano.
De acordo com lideranças do movimento opositor que atualmente organiza os protestos, denominado “Arquipélago”, sua organização é totalmente horizontal e não houve recebimento de recursos do exterior para organizar o protesto.
Já o jornal Granma, veículo de imprensa oficial do Partido Comunista Cubano, afirmou que o movimento está sendo organizado com recursos e ações de inteligência americanos com o objetivo de mudança de regime em Cuba. “Uma vez mais, nós cubanos enfrentamos uma investida por parte do império”, escreveu o periódico na edição de sexta-feira, 12.
Em discurso recente, Días-Canel afirmou que a política do governo do democrata Joe Biden em relação a Cuba visaria a atacar Havana para ganhar os votos da diáspora de Cuba, contrária ao regime comunista, que se estabeleceu na Flórida. O estado americano é considerado estratégico nas eleições americanas.
Uma das lideranças mais proeminentes dos protestos é Yunior Garcia Aguilera. Ele trabalhou por anos no teatro estatal e na área audiovisual e era contrário ao embargo americano. Ou seja, não pertenceria aos velhos movimentos anticastristas.
O governo cubano chegou a exibir na TV estatal o depoimento de um suposto agente duplo que teria se infiltrado em um grupo ligado a Aguilera. Ele disse que Aguilera estaria tramando choques entre a população e as forças armadas cubanas. Já o ativista disse à agência de notícias Reuters que nunca cogitou usar de violência contra o governo.
O governo cubano também afirmou que um integrante de uma organização anticastrista que já foi acusado de extremismo teria oferecido a Aguilera enviar mercenários em embarcações dos EUA para Cuba no dia do protesto, segundo a Reuters.
Blanco disse que Aguilera não tem ligações com os EUA e pretende fazer um protesto pacífico no domingo, 14. Ele teria anunciado que caminharia vestido de branco e com uma flor branca — símbolos da resistência ao regime de Havana que são utilizados pelo movimento Damas de Blanco, o único tolerado pelo regime. Porém, Aguilera caminharia sozinho pelas ruas de Havana em um ato de desafio ao governo.
A natureza da reação do governo a esse protesto de domingo pode influenciar o movimento programado para o dia seguinte.