A invasão da Ucrânia pela Rússia elevou o risco de uma Terceira Guerra Mundial ao nível mais alto, desde antes da queda da União Soviética. Mas o mundo não tem sofrido só com este conflito.
O historiador britânico Richard Overy, que escreveu vários livros sobre conflitos globais e a Segunda Guerra Mundial, descreveu, em um artigo recente para o The Telegraph, três cenários que poderiam desencadear, facilmente, um novo conflito global.
Cenário 1: O Irã desenvolve uma bomba nuclear
O primeiro seria o desenvolvimento de uma bomba nuclear pelo Irã.
Os Estados Unidos poderiam reagir a tal perigo com a ameaça de uma invasão militar semelhante à Guerra do Golfo. A situação não seria tolerada pelo Irã.
Os movimentos de tropas americanas levariam, provavelmente, a Rússia e a Coreia do Norte a sinalizarem o seu apoio ao Irã. Os Estados Unidos poderiam trazer aliados, a Rússia entraria na luta e as coisas piorariam.
“Ocorreria um impasse nuclear, mas a situação tensa poderia terminar em desastre. A Terceira Guerra Mundial começa com uma troca de tiros nucleares e o resto, como dizem, é história”, explicou Overy.
Cenário 2: China invade Taiwan
As frustrações chinesas sobre o estatuto de Taiwan podem levar a um aumento de tropas na região, seguido de uma invasão, num momento em que os Estados Unidos estão distraídos com os seus assuntos internos.
Diante da situação, os Estados Unidos poderiam optar por utilizar uma arma nuclear tática para salvar Taiwan, provocando uma resposta, de mesma gravidade, da China. A Rússia e a Coreia do Norte ficariam do lado da China.
Moscou poderia alertar a Europa para ficar fora do conflito. De qualquer forma, os Estados Unidos estariam numa situação semelhante à Segunda Guerra Mundial – uma guerra em duas frentes na Europa e na Ásia.
Cenário 3: Estados Unidos atacam
O terceiro cenário é um pouco mais preocupante. A divisão crescente entre os governos autoritários do mundo e o Ocidente fomentaria uma situação em que os Estados lancem uma espécie de ataque.
Os sistemas ocidentais de comunicação por satélite são atacados, causando danos massivos aos setores comercial e militar do Ocidente, mas ninguém assume a responsabilidade pelo ataque.
Os governos do Ocidente optam por iniciar a mobilização e os regimes autoritários do mundo exigem que ela seja parada, o que faz lembrar a Primeira Guerra Mundial.
Overy argumentou que, tal como em 1914, “as mobilizações, uma vez postas em movimento, são difíceis de parar e a crise aumenta". "Bem-vindo à Primeira Guerra Mundial”, concluiu.
No entanto, segundo o historiador britânico, não deveríamos perguntar como irá começar a próxima guerra global, mas, sim, o porquê de as potências mundiais brigarem entre si.
Por que os humanos entram em guerra?
A luta por recursos e poder foi o que levou os humanos a entrarem em conflito, inúmeras vezes, no passado. O petróleo impulsou o Japão na Segunda Guerra Mundial, assim como o desejo dos romanos de obter escravos.
A ganância de Adolf Hitler também era a de Alexandre, o Grande, Napoleão Bonaparte e Genghis Khan. E por isso Overy acredita na certeza de um conflito futuro.
Quer se trate de uma única pessoa que puxa o mundo para a guerra, como Hitler fez em 1939, quando ordenou a invasão da Polônia, ou uma grande potência como a China, que ataque um lugar menor, como Taiwan, ou mesmo o que a Rússia tem feito na Ucrânia, estes padrões provavelmente irão se repetir.
“As guerras do futuro baseiam-se numa herança sombria. O fato de a paz parecer ser a opção racional para a maioria dos humanos nunca foi capaz de reprimir o desejo de lutar quando parece necessário, ou lucrativo, ou uma obrigação”, argumentou Overy.
“Ninguém, provavelmente, procura ativamente a Terceira Guerra Mundial, mas as outras duas também não foram imaginadas ou desejadas. A triste realidade é que a nossa compreensão da razão pela qual as guerras ocorrem pouco contribuiu, até agora, para deixar a guerra de lado como um elemento duradouro nos assuntos humanos”, acrescentou Overy.