Segundo a organização, ele foi detido há três dias em um aeroporto de Moscou e tem sido mantido sob custódia pelas autoridades com dois de seus funcionários. Todos foram oficialmente acusados de atuar em cumplicidade com que as autoridades russas chamam de "movimento internacional LGBT" e de "promover relações sexuais não tradicionais entre os frequentadores do bar".
Os dois funcionários – um gerente e um diretor artístico – já haviam sido presos na primeira quinzena de março, quando a polícia efetuou uma batida no local, chamado Club Pose, durante um show de drags queens.
Na ocasião, circularam vídeos de clientes e funcionários do estabelecimento sendo humilhados pelos policiais, com alguns sendo forçados a encostar o rosto no chão. Drags tiveram suas perucas e roupas confiscadas. Segundo a ONG Anistia Internacional, os policiais contaram com o auxílio de membros de um grupo ultranacionalista durante a operação. Na ocasião, ativistas homófobicos e apoiadores do Kremlin elogiaram a ação contra o estabelecimento de Oremburgo, que fica a 1.300 km a sudeste de Moscou.
Se forem considerados culpados, o dono e os funcionários arriscam serem sentenciados a até dez anos de prisão.
"É particularmente repreensível que membros de um grupo nacionalista russo tenham sido autorizados a ajudar a polícia na invasão do show de drags na boate Pose em Orenburg, sudoeste da Rússia, no início deste mês. Essa cooperação entre as autoridades policiais e ativistas nacionalistas promove um ambiente de impunidade para ataques homofóbicos e transfóbicos e instiga um clima de medo entre as pessoas LGBTI", disse Natalia Zviagina, diretora da Anistia Internacional para a Rússia.
Repressão crescente
Esse é o primeiro processo criminal contra membros da comunidade LGBT russa desde que a Suprema Corte do país – controlada pelo regime – acatou em novembro um pedido do Ministério da Justiça e determinou que os ativistas ou membros da comunidade LGBTQ+ deveriam ser designados como "extremistas".
"O que as pessoas LGBTI e os ativistas de direitos humanos temiam desde o final do ano passado finalmente aconteceu – as forças policiais russas, encorajadas pela vergonhosa decisão da Suprema Corte que declarou um ‘movimento LGBTI internacional' inexistente como ‘extremista', agora abriram seu primeiro caso de ‘extremismo' relacionado á causa LGBTI", disse Zviagina.
No dia 22 de março, o regime de Putin também acrescentou oficialmente o que chamou de "movimento internacional LGBT" a uma lista de organizações extremistas e terroristas. A agência estatal de notícias RIA disse que a designação se aplica ao "movimento social LGBT e suas unidades estruturais".
A lista é administrada pela agência Rosfinmonitoring, que tem poder para congelar contas bancárias de pessoas ou grupos designados como "extremistas" ou "terroristas".
O regime contra os direitos civis
Como parte de uma cruzada liderada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em prol do que ele considera valores familiares em oposição à "decadência" dos costumes ocidentais, as autoridades russas adotaram na última década uma série de restrições a expressões referentes a orientação sexual e identidade de gênero.
Moscou vem aumentando a repressão às liberdades civis no país desde o início de sua invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Naquele mesmo ano, Moscou proibiu o que chamou de "propaganda gay" entre adultos e tornou ilegal o uso de expressões referentes a "relações sexuais não-tradicionais" em público e na mídia. Em 2013, essas expressões já haviam sido banidas junto aos menores de idade.
Também em 2022, a Rússia ampliou as restrições aos chamados "agentes estrangeiros", o que tornou mais fácil para o governo fechar o cerco contra ONGs e portais de internet que recebem qualquer tipo de apoio vindo do exterior.
No ano passado, a Rússia baniu as cirurgias de redesignação sexual. O presidente da Duma (Parlamento russo) qualificou essa prática como "o caminho para a degeneração".
Desde o recrudescimento da repressão na Rússia, veículos independentes de imprensa, como o jornal Novaya Gazeta e o portal Medusa, foram fechados pelas autoridades ou forçados ao exílio.