A China lançou uma operação especial para combater o tráfico de mulheres e crianças, que se estenderá por todo o país até o final de 2024. Segundo a ONU, o tráfico e a exploração de seres humanos é a terceira atividade ilegal mais lucrativa do mundo.
A última vez que as autoridades chinesas tentaram combater o tráfico de seres humanos, em especial de mulheres e crianças, foi em 2022. O Ministério da Segurança Pública teve de reagir a notícias que chocaram o país. O vídeo de uma mulher acorrentada pelo pescoço, encolhida em um celeiro na província oriental de Jiangsu, correu o mundo. Descobriu-se que a mulher tinha sido vítima de tráfico, raptada e vendida a um homem com quem teve oito filhos. No país, as imagens causaram choque e obrigaram a imprensa oficial a admitir que a “venda de mulheres” era uma realidade chinesa. O homem foi condenado a nove anos de prisão por maus-tratos e confinamento.
Naquela época, o presidente Deng Xiaoping queria dar prioridade ao desenvolvimento econômico. Num país patriarcal como a China, o controle da natalidade levou a uma disparada de abortos seletivos e ao abandono de crianças, com um efeito dominó no tráfico de mulheres e crianças.
As redes criminosas operam entre as províncias chinesas, onde o desequilíbrio entre homens e mulheres varia de 106 a 126 homens para cada 100 mulheres – mas também entre a China e outros países da região.
Em tentativas anteriores, os legisladores defenderam o endurecimento das penas para os traficantes e seus cúmplices, para que vender e comprar vítimas fossem considerados crimes equivalentes, e aumentar as penas de 5 para 20 anos de prisão. Entretanto, as medidas não parecem ter dado os resultados esperados.
Não existem números precisos, mas os desaparecimentos de crianças são estimados entre várias dezenas e centenas de milhares por ano. Estudos demonstraram, por exemplo, que a maioria das crianças abandonadas são garotas e a maioria das crianças raptadas são rapazes. Em 2021, a polícia chinesa anunciou ter encontrado quase 11 mil crianças desaparecidas ou raptadas que conseguiram voltar para casa.
Tráfico regional
Tampouco existem dados detalhados sobre as mulheres, mas a imprensa asiática noticia regularmente casos de vítimas repatriadas para o Laos, Camboja e, mais recentemente, para as Filipinas, onde foi descoberta uma rede de tráfico de noivas por correspondência, envolvendo a máfia chinesa.
Os traficantes também operam na Birmânia, mergulhada numa guerra civil, onde centenas de mulheres são vítimas de casamentos forçados. As redes também se desenvolvem entre a China e a Coreia do Norte, o Nepal, a Indonésia e o Paquistão.
Organizações de defesa de direitos humanos pedem a realização de campanhas de sensibilização dirigidas às mulheres vulneráveis e pobres destes países, para desmistificar a imagem de paraíso econômico da China e sensibilizá-las para os riscos de caírem nas mãos de traficantes.