Autoridades francesas expulsaram um imã tunisiano acusado de pregar o ódio contra o país, mulheres e judeus, anunciou na quinta-feira (22/02) o ministro do Interior do país, Gerald Darmanin.
Mahjoub Mahjoubi, imã (líder que dirige orações coletivas do islamismo) da pequena cidade de Bagnols-sur-Ceze, no sul da França, foi enviado de volta à Tunísia "menos de 12 horas após sua prisão", anunciou Darmanin em uma publicação no X (antigo Twitter).
"A firmeza é a regra", disse Darmanin, que classificou Mahjoubi como um "imã radical que fez comentários inaceitáveis".
A ordem oficial para a expulsão de Mahjoubi apontou que em sermões em fevereiro ele havia transmitido uma imagem "retrógrada, intolerante e violenta" do Islã, que estaria encorajando comportamentos contra os valores franceses, discriminação contra mulheres, "tensões com a comunidade judaica" e "radicalização jihadista". Ainda segundo a ordem, o imã também se referiu ao "povo judeu como inimigo" e pediu "a destruição da sociedade ocidental".
Mahjoubi, de 52 anos, que vivia na França desde a década de 1980 com mulher e cinco filhos (todos com cidadania francesa), havia ganhado notoriedade nos últimos dias após transmitir um vídeo no qual descreveu a "bandeira tricolor" – sem especificar se estava mencionando a bandeira francesa – como uma "bandeira satânica" que não teria "nenhum valor aos olhos de Alá". Em uma pregação em 2 de janeiro, Mahjoubi também lamentou "o fato de que as mesquitas não produzem mais combatentes como faziam na época do profeta" e se referiu à França como uma "sociedade beligerante e podre".
O ministro Darmanin afirmou que a expulsão foi uma "demonstração" de que uma nova lei que endurece a imigração aprovada recentemente no país "torna a França mais forte". A legislação foi encarada por observadores como parte da resposta do governo à ascensão da ultradireita anti-imigração nas pesquisas de opinião francesas e sofreu forte oposição dos partidos de esquerda.
No entanto, o país já expulsou dezenas líderes religiosos no passado, antes da aprovação da nova legislação, com base em artigos do código de entrada e residência do país. No ano passado, por exemplo, a França deportou um imã marroquino e um argelino que havia sido funcionário de uma mesquita que foi fechada em 2018. Em 2010, um clérigo de uma mesquita no subúrbio parisiense de Seine-Saint-Denis também foi enviado de volta a seu país natal, o Egito,
O presidente Emmanuel Macron disse em 2020 que queria acabar com a permanência na França de cerca de 300 imãs enviados por outros países. Nenhum foi aceito do exterior desde janeiro deste ano. A vizinha Alemanha também tem tomado medidas para desestimular o envio de imãs ultraconservadores do exterior, mas com outra abordagem: incentivar a formação de líderes religiosos locais.
Após chegar à Tunísia, seu país de origem, Mahjoubi afirmou que pretende recorrer da sua expulsão. "Vou me defender e fazer tudo o que puder para voltar para minha esposa e meus filhos", disse ele da casa de seus sogros em Soliman, a leste de Túnis.
"Não há dúvida de que uma injustiça foi cometida contra mim, a lei de imigração foi aprovada há cerca de três semanas, e eu sou a primeira vítima dessa lei", disse o imã, que negou ainda qualquer "insulto à comunidade judaica ou à bandeira francesa". "Nunca defendi o ódio ou o radicalismo – pelo contrário, todos me conhecem. Minha expulsão foi resultado de uma decisão arbitrária do ministro do Interior", acrescentou.