Quando o gênio da física escreveu em latim sobre um pergaminho, em 1687, as suas hoje famosas leis do movimento, ele poderia até esperar que ninguém as entendesse na época, mas jamais supor que um erro de tradução fizesse com que as pessoas do futuro aceitassem como verdade científica um conceito que, na verdade, ele não criou.
O mal-entendido envolve a chamada “lei da inércia”, na qual Newton teria afirmado que um corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, a menos que uma força externa atue sobre ele. Mas essa afirmação, que até costumamos decorar para o ENEM, pode não estar correta, de acordo com Hoek.
Segundo o filósofo, o seu interesse no assunto é puramente “esclarecer as coisas”, pois o equívoco que já dura três séculos pode ter ocorrido por um “erro de tradução equivocado”, quando a obra Principia foi vertida do latim para o inglês em 1729. A tradução leva a crer que um objeto continuará a se mover ou permanecer em repouso, exceto se houver a intervenção de uma força externa.
Com base nesta tradução, inúmeros académicos e professores interpretaram desde então a primeira lei da inércia de Newton como significando que um objeto continuará a mover-se em linha recta ou permanecerá em repouso, a menos que uma força externa intervenha. Mas todos sabemos, e certamente Newton sabia melhor do que nós, que as forças externas estão sempre em ação.
Para Hoek, a troca de uma conjunção proporcional por outra condicional faz toda a diferença para o princípio da física. “Ao colocar aquela palavra esquecida [na medida] de volta no lugar, [aqueles estudiosos] restauraram um dos princípios fundamentais da física ao seu esplendor original”, concluiu.
O próprio exemplo dado por Newton, o de um pião girando, é uma mostra clara de como o físico entendia a aplicação da Primeira Lei: "a corpos no mundo real", destacou Hoek.