Recentemente vi um vídeo onde uma mulher reclama da falta de atenção dos homens para com as mulheres em uma balada. Ela e suas amigas, todas bonitas, capricharam no visual para atrair olhares masculinos. Mas os cisgêneros do "sexo oposto" nem nada. Um reflexo do desgaste do excesso do politicamente correto que nada mais é que o falso moralismo ressignificado sob o prisma de um fundo de uma garrafa de vidro.
Em uma entrevista à jornalista Joyce Pascovitch, publicada em setembro de 2020, Glória Maria foi bem clara: "Já fui paquerada muitas vezes, mas nunca me senti assediada moralmente. Acho que o assédio moral é uma coisa clara, não tem dubiedade. Não tem como você interpretar. O assédio é uma coisa que te fere, é grosseiro, te machuca, te incomoda, te desmoraliza."
Na mesma entrevista, Glória dispara: "Eu acho tudo isso um saco. Por exemplo, hoje, tudo é racismo, tudo é preconceito. Eu, até hoje, na TV, tenho meus câmeras antigos, os técnicos que estão comigo há quarenta anos, todos me chamam de Neguinha. Eu nunca me ofendi, nunca me senti discriminada. Me chamam de uma maneira amorosa, carinhosa".
Ao se definir como "politicamente incorreta", a agora saudosa jornalista deu uma fisgada no músculo do feminismo ideológico sectário que ao se desnudar se veste com a fantasia da exacerbação.
Muitas vezes brinquei com uma amiga feminista ao lhe dizer, roubando as palavras do grande Millôr Fernandes, que o melhor movimento feminista é o dos quadris. Claro que ela entendia a brincadeira. Diferentemente de muitas feministas que armam uma barricada sem sequer existir a intenção da pessoa oposta em iniciar um confronto político comportamental.
Ao contrário de muitas garotas da década de 90 e da primeira década do século XXI - virada do milênio - que gostavam de ser chamadas de ordinárias, vagabundas e cachorras - não entre quatro paredes, mas nas baladas -, algumas mulheres atualmente armam o cerco para se defenderem de emboscadas inexistentes.
Do jeito que a coisa está, faz medo um homem chegar em uma mulher e, despretensiosamente, adjetivá-la de bonita. Pode ser que ele acabe em uma delegacia para responder por assédio moral e sexual, constrangimento ilegal e injúria motivada pela lascívia desmedida.
A violência contra o ser humano, em geral, e contra a mulher, em particular, é execrável. Mas é preciso desintoxicar a sociedade separando o que é real e o que é delírio ideológico.
Glória Maria nunca tirou a roupa à porta de uma igreja, nunca saiu sem soutien em passeatas ou o queimou em praça pública e nunca gravou vídeo se masturbando com um crucifixo. Mesmo assim, foi muito mais feminista que todas essas mulheres que fizeram isso.