Tinha eu quinze ou dezesseis anos quando vi Je Vous Salue (1985), Marie, um filme que retratava a vida de Maria, uma estudante que trabalhava em um posto de gasolina de seu pai, e José, um jovem taxista. Uma versão contemporânea da relação dos pais de Jesus. O filme virou escândalo, foi duramente criticado pelo papa João Paulo II e censurado em vários países. Sua censura no Brasil ganhou os versos na canção Selvagem dos Paralamas do Sucesso, uma composição de Bi Ribeiro e Herbert Vianna que aproveitaram a oportunidade para criticar a recém fundada Nova República sob o governo José Sarney:
"O governo apresenta suas armas:
discurso reticente, novidade inconsistente
e a liberdade cai por terra
aos pés do filme de Godard".
Hoje (13.09) morreu, aos 91 anos, o diretor do filme que tanto causou polêmica em todo o planeta, Jean-Luc Godard, o franco-suíço que foi um dos expoentes da Nouvelle Vague (Nova Vaga ou Nova Onda), movimento do cinema francês que surgiu em 1958 com o filme Le Beau Serge (Nas Garras do Vício, 1958), do cineasta Claude Chabrol, em resposta ao realismo poético francês.
Como representante desse movimento, Godard foi um artista completamente experimentalista. Estreando, em 1960, com o longa Acossado, Godard logo se tornou uma referência para diversos diretores consagrados como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Martin Tarantino, Brian De Palma, Bernardo Bertolucci e Paolo Pasolini.
No Brasil, o franco-suíço influenciou diretores do Cinema Novo como Glauber Rocha e Cacá Diegues.
Em 2010, Godard ganhou o Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra.
Controvertido como seus filmes, Godard dizia que a história de um filme teria que ter começo, meio e fim, mas não nessa ordem. Imitando sua arte, decidiu morrer de forma inusual através do suicídio assistido.
Diferentemente da eutanásia, o suicídio assistido tem a própria pessoa como autora da morte e é autorizado na Suíça (desde 1942), onde vivia o cineasta.
"Cinema é a fraude mais bonita do mundo." (Jean-Luc Godard)