Um dos escritores mais lidos do Brasil por crianças e adolescentes, Pedro Bandeira, que chega aos 80 anos nesta quarta-feira com 130 livros publicados, diz que não pretende adotar em seus romances o gênero neutro, que ele considera uma "invenção burra".
A linguagem neutra, como é conhecida, é usada por quem não se identifica integralmente nem com o gênero masculino nem com o feminino.
Em idiomas sem variação de gênero para substantivos e adjetivos como o inglês, a neutralidade é alcançada a partir da substituição dos pronomes "he" e "she" por "they", o "eles" do inglês, que não tem gênero definido como no português.
Já nas línguas latinas, caso do português, a neutralidade só é alcançada a partir da criação de novos pronomes --"elu" e "delu", "ile" e "dile"-- e da substituição do "a" e do "o" por "e", como em "professore", ao invés de "professora" ou "professor".
São mudanças que desagradam a Bandeira. "O mais chato do politicamente correto é quando tentam mexer na linguagem. A escola tem que ensinar a língua que está no dicionário e na gramática. Um personagem caipira pode falar errado, mas o narrador tem que usar a gramática tal como ela é. Agora querem criar um gênero que não existe", diz o escritor, em entrevista a este jornal.
Embora torne difícil a formação de frases e parágrafos inteiros, a língua não binária tem extrapolado o campo do ativismo para ser incorporada pelos pilares da cultura pop. Hoje, já é vista em livros, filmes, seriados e até em novelas da Globo. Bandeira, no entanto, acredita que o movimento é passageiro.
"Você acha que vai pegar? É impossível. É uma invenção burra. Tem muita palavra terminada em 'e' que não tem nada a ver com neutralidade de gênero. É uma besteira. Se se ofenderem, peço desculpas. Eu não quis ofender, mas não vou usar o gênero neutro e a academia não vai instituir."