"As mulheres sofreram lavagem cerebral para odiar o próprio corpo. É um fato", protestou Emma Thompson durante a 72ª edição do Festival de Cinema de Berlim, que começou na última quinta-feira (10). O discurso inspirador da atriz britânica logo dominou as redes sociais: para ela, as mulheres são historicamente alvo de uma pressão estética tão forte que as faz odiar o próprio corpo. Quanto ao prazer feminino, pouco ou nada importa. Todas essas questões ganham destaque em seu novo filme, Good Luck to You, Leo Grande, que foi exibido na Berlinale.
A trama assinada por Katy Brand suscita um debate extremamente relevante (e muitas vezes silenciado) na sociedade atual: como é o desenvolvimento sexual da mulher? Mais especificamente, como uma mulher vive o sexo depois dos 60 anos? De onde vem o ódio ao corpo natural e ao envelhecimento?
"Não estamos acostumados a ver corpos não tratados na tela. Estamos acostumados a ver apenas corpos que foram treinados", explicou Thompson durante o evento, referindo-se a sua personagem no longa-metragem. "Eu sabia que Nancy não iria à academia, que comeria biscoito demais, que teria um corpo normal, de uma mulher de 62 anos que teve dois filhos."
Para desempenhar o papel de Nancy, a eterna Professora Trelawney de Harry Potter reconheceu que precisou fazer algo muito complicado: aceitar-se exatamente como é. Em suas palavras:
Eu não posso ficar na frente de um espelho assim. Se eu fico na frente de um espelho eu sempre escondo alguma coisa, eu me viro... eu faço alguma coisa. Eu não posso ficar parada, por que eu deveria? É horrível. Tudo ao nosso redor nos lembra o quão imperfeitas somos e que tudo está errado conosco. Tente se olhar no espelho sem roupa e sem se mexer. Apenas aceite e não julgue. É a coisa mais difícil que já fiz. Eu fiz algo que eu nunca tinha feito como atriz.
Segundo Thompson, a sexualidade das mulheres não é um tema visto como importante no debate público. "Nancy não cresceu em um mundo que constantemente pergunta a ela: 'Você sentiu prazer?'', disse a atriz. "Esperamos que isso [o filme] desperte muita conversa sobre intimidade, o que realmente é, o que é prazer, o que é vergonha e por que nos sentimos tão envergonhadas com os prazeres estranhos que buscamos e sentimos”, completou ela.