Pensei muito se escreveria isso e nesse momento em que escrevo ainda penso em não publicar. Mas creio que é preciso mostrar o quão fanática, brega e fútil é uma parcela da humanidade.
No século XVIII, Marquês de Sade escreveu em 120 Dias de Sodoma e Gomorra atos libidinosos onde havia o bizarro prazer escatológico de devorar fezes e ingerir urina. Embora hediondo, a prática tem um caráter hedônico e representa um ato visceral da práxis copulatória, contextualizada, subjetivada. Mas, hodiernamente, que prazer as pessoas sentem em comprar flatulência armazenada?
Nas conversas de bar, muitas vezes escutei: "Com uma mulher dessas, eu trago até o peido dela". Mas isso é uma colocação jocosa, uma pilhéria para demonstrar a beleza plástica de uma determinada mulher. Algo simplesmente figurativo. Mas, assim como em Sade, se isso acontecesse, embora bizarro, seria por hedonismo. Mas, pergunto novamente: Que prazer as pessoas sentem em comprar flatulência armazenada? Para você que pensa ser isso impossível, digo agora que não o é.
A influencer digital e escritora Stephanie Matto, nascida na República Tcheca e possuidora também de nacionalidade estadunidense, mora em New York e faz imenso sucesso no realité 90 Day Fiance, onde forma um casal do mesmo sexo. A influencer é malandra o suficiente para saber que no mundo tem gente otária o suficiente para comprar seus peidos armazenados em um vidrinho com uma pétala. Ela lucra mais de R$ 260 mil por semana vendendo seus peidos. Cada vidrinho custa R$ 5,6 mil.
“Recebo mensagens de fãs querendo comprar sutiã, calcinha, fios de cabelo e até água de banho usada… Pensei então que peidos dariam um ótimo nicho. É algo divertido, peculiar e diferente“, declarou a influencer.
Não, não estou interessado em saber que sentido existe nessa transação para quem compra. Para Stephanie, o sentido está bastante claro. Isso deve proporcionar-lhe hospedagem em hotéis de luxo, voos aéreos, viagens nababescas, roupas de grife... Mas o que me enoja, o que me causa repulsa, é o fato de um peido pop star valer mais que a força de trabalho de cinco trabalhadores braçais. Que sentido há nisso? Quanta violência social escondida em um ato de pura futilidade.