O casuar é frequentemente considerado a ave mais perigosa do mundo. Nativo de florestas tropicais da Austrália e Nova Guiné, ele pode ser agressivo em cativeiro ou diante de uma ameaça humana. Em 2019, por exemplo, ficou famoso um acidente trágico em que um casuar atacou, com as garras afiadas, seu cuidador.
Apesar de parecer um animal imune à domesticação, um estudo recente indicou que, há 18 mil anos, pessoas na Nova Guiné podem ter criado filhotes de casuares. Esse seria o primeiro exemplo conhecido de humanos domesticando aves, milhares de anos antes da galinha.
O estudo analisou mais de mil fragmentos de cascas de ovos do casuar, encontrados em escavações arqueológicas realizadas em abrigos de rocha usados por caçadores-coletores na Nova Guiné. Para entender o que os antigos habitantes da ilha faziam com os ovos, uma equipe de cientistas descobriu em qual estágio de incubação cada ovo estava – ou o quão longe estava da eclosão. Para criar um modelo para isso, eles escanearam as cascas gerando imagens 3D de alta resolução e fizeram uma série de comparações com cascas de ovos modernas de avestruz – que pertence à família Casuariidae, assim como os casuares.
Os cientistas descobriram que alguns ovos, que apresentavam sinais de queima, estavam no início do desenvolvimento. Isso sugere que foram cozidos e comidos. Já um número maior de cascas eram de ovos em estágios mais avançados de incubação, que provavelmente apresentavam embriões quase totalmente formados.
É possível que as pessoas que coletavam esses ovos também fizessem deles sua refeição, com os embriões já formados, ou esperassem o surgimento das aves, para criar os filhotes.
Os cientistas apostam na segunda possibilidade. “[Ainda hoje algumas] pessoas criam filhotes de casuar até a idade adulta para coletar penas e consumir ou comercializar as aves. É possível que os casuares também tenham sido muito valorizados no passado, já que estão entre os maiores animais vertebrados da Nova Guiné”, disse Kristina Douglass, autora principal do estudo.
Mas a equipe de pesquisadores também destaca que a coleta dos ovos não é tarefa fácil. Os antigos habitantes da ilha precisariam saber exatamente onde estavam os ninhos de casuar e quando os ovos eram postos, além de escapar dos pais que guardam os embriões.
“Isso sugere que as pessoas que estão em comunidades de caça e coleta têm esse conhecimento realmente íntimo do meio ambiente e podem, portanto, moldá-lo de maneiras que não havíamos imaginado”, afirma Douglass.