Severiano Ribeiro, cearense que moldou o circuito exibidor de cinema, tem memória celebrada no Ceará
Importância de Luiz Severiano Ribeiro para o cinema no Ceará e no Brasil é ressaltada no aniversário de 50 anos de morte do empresário baturiteense.
Publicada em 05/12/24 às 19:42h - 25 visualizações
João Gabriel Tréz, DN
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Registro de 1990 do público em fila para o então mais recente filme dos Trapalhões no Cine São Luiz, um dos principais cinemas fundados por Luiz Severiano Ribeiro (Foto: CEDOC/SVM)
Foi um cearense nascido em Baturité que ajudou a construir, fortalecer e moldar o circuito de salas de cinema não só no Estado, mas no Brasil todo. Entre os legados do empresário Luiz Severiano Ribeiro (1885-1974), estão o Cineteatro São Luiz, a rede de cinemas Kinoplex e a expansão do mercado exibidor no século XX em todo o País.
Neste dezembro de 2024, quando se completam 50 anos desde a morte de Severiano Ribeiro, a memória do empreendedor é celebrada no Ceará por diferentes iniciativas que incluem a abertura de uma sala pública de cinema na casa onde ele morou em Baturité.
Empresário visionário
“O cearense Luiz Severiano Ribeiro, na minha opinião, foi antes de tudo um visionário”, resume Duarte Dias, curador e programador de Cinema do São Luiz — fundado pelo empresário em 1958 e, hoje, um dos equipamentos da rede pública do Governo do Estado.
O trabalho de Severiano Ribeiro como empreendedor, no entanto, vem de décadas antes da inauguração do São Luiz. Em 1904, aos 19 anos, o então jovem — que havia anteriormente ido morar no Rio de Janeiro — retorna ao Ceará após a morte da mãe e passa atuar em diferentes áreas comerciais, de fábrica de gelo à livraria.
“Antes de dedicar-se inteiramente à atividade de exibidor cinematográfico, ele já havia mostrado sua competência e visão em vários outros negócios, todos eles bem sucedidos”, ressalta Duarte.
Início no cinema
O cinema surge no horizonte de Severiano Ribeiro ainda no início do século XX. Na Fortaleza daquela época, com pouco mais de 65 mil habitantes, como destaca o curador, salas para exibição de filmes começaram a surgir na cidade.
“A primeira sala fixa de cinema do Ceará remonta ao ano de 1908, quando o pioneiro italiano Vittorio Di Maio inaugurou, em 26 de agosto daquele ano, o Cinematographo Art-Nouveau, localizado na esquina da Rua Major Facundo com rua Guilherme Rocha”, informa Duarte.
O sucesso do empreendimento chamou a atenção de outros empresários. “Foi nesse contexto de expansão que Luiz Severiano Ribeiro, atento ao mercado, percebeu o potencial do negócio e resolveu empreender fortemente, tendo logo assumido o protagonismo da atividade em Fortaleza”, explica Duarte.
O primeiro negócio de Severiano Ribeiro ligado ao cinema foi o Cine Riche, de 1915. Em 1917, ele inaugurou o Cine-Theatro Majestic, que marcou a fundação do Grupo Severiano Ribeiro — desde 2002, a empresa adotou a marca Kinoplex e segue atuante no mercado, sendo considerada a maior rede de cinema de capital exclusivamente nacional.
O início da década de 1920 foi de novos marcos, como a aquisição do Cine-Theatro Polytheama e a abertura de outro cinema que entraria na história do cenário exibidor da Capital.
“Em ano de celebração dos 100 anos do Cinema Cearense, precisamos relembrar que o primeiro filme creditado a um cearense foi exibido no extinto Cine Moderno, em Fortaleza”, ressalta Luisa Cela, secretária da Cultura do Ceará.
O marco do centenário da produção audiovisual do Estado leva em consideração a exibição em outubro de 1924 de “Temporada de futebol maranhense no Ceará”, realizado pelo cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque (1893-1975), no cinema fundado por Severiano Ribeiro.
Expansão geográfica e de atuação
A partir da década de 1930, o empresário expandiu os negócios além do contexto local, abrindo salas de exibição e atuando na distribuição de filmes também no Sudeste.
“Com seu espírito de liderança e já sediado no Rio de Janeiro, então capital da república, Severiano foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato Cinematográfico de Exibidores (1933)”, destaca Duarte.
O curador cita que, ao lado do filho Luiz Severiano Ribeiro Jr., o cearense “foi responsável não só pela consolidação da maior cadeia exibidora do país, que alcançava as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, como também marcou época no setor da distribuição e finalização”.
“Enquanto empresário do ramo do cinema, Luiz Severiano foi de fundamental importância para a estruturação do mercado brasileiro como um todo, mesmo que muitas vezes contestado, particularmente por alguns realizadores brasileiros”, afirma Duarte.
Além dessas frentes, Severiano Ribeiro também foi ligado à produção cinematográfica da época, uma vez que o filho dele tornou-se, nos anos 1940, sócio majoritário da Atlântida Cinematográfica, uma das maiores produtoras audiovisuais do País.
Direta ou indiretamente, o empresário passou a ter controle de diversas etapas do audiovisual, da produção à distribuição e exibição.
Cine São Luiz como "obra máxima"
“Saudando o povo de minha terra, sentir-me-ei reconhecido se meus conterrâneos fizerem do São Luiz o seu cinema”, escreveu Luiz Severiano Ribeiro.
O trecho acima destacado encerrava o texto assinado pelo empresário que compunha o programa impresso distribuído ao público quando do evento de inauguração do Cine São Luiz, em 1958 — "obra máxima de Severiano em nosso (e dele) estado", define Duarte.
Na segunda metade do século XX, o cinema funcionou por décadas como uma das principais salas de Fortaleza, tendo sido tombado como patrimônio histórico e cultural pelo Governo Estadual em 1991, durante mandato de Tasso Jereissati.
Após anos de uso indefinido e instabilidade, o espaço foi oficialmente comprado pelo Governo em 2011, depois reformado e restaurado, até reabrir como equipamento público cultural em dezembro de 2014, há 10 anos.
Neste ano, a sala principal do São Luiz foi oficialmente nomeada como Sala Luiz Severiano Ribeiro, em homenagem ao fundador. Um espaço de exibição menor foi inaugurado também em 2024 e leva o nome de Sala Seu Vavá — homenagem a Raimundo Carneiro de Araújo (1930-2022), proprietário do Cine Nazaré, último cinema de bairro de Fortaleza.
Homenagem em Baturité
Além da menção simbólica ao empresário no nome oficial da sala principal do São Luiz, o Ceará irá efetivar outra homenagem a Severiano Ribeiro: a casa do cearense em Baturité deve ganhar uma sala pública de cinema.
Quem adianta a informação ao Verso é Luisa Cela, secretária da Cultura do Estado. O projeto, proposto pela prefeitura do município no começo de 2023, deve ser inaugurado em 2025.
“Através de uma parceria entre a Secult Ceará e o município de Baturité, será construída (no local) uma sala de cinema Cine+”, afirma a gestora, citando o projeto de instalação de salas multiuso de cinema que já inaugurou, neste ano, um exemplar em Itapipoca.
Conforme Luisa, “parcerias e formalizações necessárias” estão em tramitação atualmente para concretizar o projeto no ano que vem. “Nada mais adequado”, define a secretária, para celebrar a memória do baturiteense.
“Inaugurar salas de cinema, amplia o acesso a esta experiência artística e cultural. Com seus investimentos, Severiano manteve muitas salas em várias cidades do País. Portanto, construir uma política de valorização do audiovisual cearense, que passa também por ampliar o nosso parque exibidor, é a melhor homenagem que a Secult Ceará pode prestar ao Severiano Ribeiro, especialmente, em seu município”, ressalta Luisa.
Legados e mais homenagens
“Penso ser louvável toda e qualquer homenagem ao pioneiro Luiz Severiano Ribeiro, cearense cuja trajetória empresarial foi de fundamental importância para a estruturação do mercado audiovisual brasileiro, em particular o parque exibidor”, aponta Duarte.
O pesquisador celebra o projeto da sala em Baturité e lembra que, no ano que vem, serão completados os 140 anos de nascimento de Severiano Ribeiro, “o que abre possibilidades para várias iniciativas” — entre elas, sugere a inauguração de uma estátua do empresário na Praça do Ferreira, em frente ao Cineteatro São Luiz.
“O legado de Luiz Severiano Ribeiro, de fato, vai além da empresa por ele criada, hoje Kinoplex, que segue gerando trabalho e renda para centenas de trabalhadores brasileiros, sendo uma das líderes nacionais desse mercado altamente competitivo e globalizado”, reflete Duarte.
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