Os resultados da economia estão melhores do que no fim do mandato de Dilma Rousseff, o apagar das luzes do PT na Presidência da República. O desastre causado pelo Partido dos Trabalhadores ficou evidente nos indicadores econômicos e estampado com as manifestações que levaram milhões de pessoas às ruas para retirar do poder a presidente indicada por Luiz Inácio Lula da Silva. Em agosto de 2016, o Congresso Nacional concluiu o impeachment e despachou a petista para casa.
Dilma deixou um legado de inflação, recessão econômica e desemprego. Entre as principais causas, uma crise de credibilidade gerada pelo aumento injustificado dos gastos públicos e as chamadas “pedaladas fiscais” — que serviram como argumento para o processo do impeachment.
O horizonte nos últimos meses do primeiro mandato do presidente Jair Bolsonaro é diferente. O cenário é de deflação, volta dos empregos e crescimento econômico. A pandemia chegou a impulsionar o endividamento público, mas o governo reorganizou recursos e conseguiu acalmar o mercado.
Apesar de ter enfrentado os desdobramentos econômicos de uma pandemia sem precedentes na história, somados aos efeitos da invasão russa à Ucrânia, Bolsonaro termina o primeiro mandato com recorde de empregos, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima da média mundial e redução da inflação.
Uma economia liberal tem o viés de prosperidade
Para a virada de mesa, uma fórmula conhecida pelas nações que prosperaram: uma gestão liberal na economia. Essa orientação tende a trazer prosperidade, explicou Hugo Garbe, economista-chefe da G11 Finance e professor do curso de economia e finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“Economia é uma ciência social aplicada de 200 anos”, diz. “Os economistas que têm uma boa formação sabem o que dá certo e errado. Paulo Guedes, atual ministro da Economia, é um excelente economista e formou uma equipe técnica de primeira linha. A filosofia econômica do governo Bolsonaro é ótima. Uma economia liberal tem viés de prosperidade. Ao contrário, o governo Dilma era altamente interventor, o que no médio e longo prazo destrói empregos, porque massacra a vida dos empresários".
Os números não mentem
De acordo com as mais recentes previsões feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB brasileiro pode crescer 2,8% em 2022. O desempenho previsto está acima da estimativa para a média das economias avançadas (2,4%) e próxima da projeção para o mundo: 3,2%. A população global começa a se recuperar da recessão econômica causada durante o alastramento da covid-19. O Brasil, dessa vez, não está perdendo a oportunidade.
O PIB do Estados Unidos, por exemplo, segundo os cálculos do órgão, deve crescer 1,6%. Isso é quase a metade do desempenho brasileiro. Além disso, pela primeira vez na história, a inflação brasileira é menor que a norte-americana.
Mensurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o aumento do custo de vida no Brasil ficou em 7,1% no mês de setembro, para o acumulado de 12 meses. No mesmo período, a inflação nos EUA chegou a 8,2%.
Confiança é a chave
Economista-chefe da Sarainvest e ph.D. em finanças, Alan Ghani afirma que um dos fatores para os resultados alcançados ao longo do governo Bolsonaro foi a confiança do empresariado na política econômica. “Sem credibilidade, não há investimento nem consumo”, argumenta.
“Houve uma série de reformas microeconômicas no governo Bolsonaro que trouxeram essa confiança”, explicou. “É o tipo de mudança que gera efeitos duradouros para as próximas gerações. Exemplos são a reforma da previdência; a lei de liberdade econômica; os marcos, como o do saneamento e do setor privado. Não é à toa que entraram muitos recursos em bolsa no Brasil. O país é hoje um dos que mais recebem investimentos estrangeiros.”
Gahni disse que alguns gestores de fundos internacionais relatam que o Brasil virou uma espécie de “menina dos olhos” na América Latina, como era no passado o Chile. “São políticas mais liberais que o mercado vê com bons olhos”, disse. “Houve menor interferência estatal. Existem alguns aumentos, como os causados pelos auxílios, mas o mercado vê o conjunto da obra como assertivo.”
Dinheiro mal gasto
No fim do governo petista, problemas internos causaram uma recessão. A explosão dos déficits primários nas contas públicas — quando o governo gasta mais do que arrecada — e o excesso de intervenção estatal geraram falta de previsibilidade e desconfiança.
O governo Dilma segurou preços artificialmente por causa da eleição de 2014. Em novembro daquele ano, logo depois do resultado da disputa realizada em outubro, o déficit primário para o acumulado de 12 meses aparecia pela primeira vez nas contas públicas. Dali para a frente, a má gestão das finanças só piorou.
Para tentar evitar o colapso econômico, a última gestão petista transformou em regra um mecanismo que era exceção: o financiamento de programas governamentais com dinheiro dos bancos estatais. O uso frequente desse recurso ampliou ainda mais o rombo e ficou conhecido como pedaladas fiscais.
“Em 2014 houve uma inversão no superávit primário”, diz Ghani. “A gente saiu do resultado de 1,5% do PIB – que já era ruim — para o déficit de 0,5%. Quando os investidores viram essa inversão, o medo do calote de uma dívida pública começou a ficar muito grande”, explica o economista. “Aliado a isso, existiu uma série de interferências do governo Dilma que também deixaram os empresários com bastante receio. Um exemplo foi a política de preços da Petrobras, que deixou artificial o valor cobrado pelos combustíveis, quase quebrou a estatal e ainda causou desequilíbrio no setor sucroalcooleiro, porque o etanol não conseguiu mais ser competitivo com o preço da gasolina colocado artificialmente tão baixo.”
Em meio ao crescimento da gastança muito acima do aumento da receita, o mercado começou a desconfiar da credibilidade do país para honrar as dívidas. Em vez de um ciclo virtuoso, o Brasil entrou em ciclo viciado: mais juros, menos investimentos em produção, destruição de empregos e a queda contínua da confiança. “Dificilmente apenas um fator causa um desastre econômico, exceto casos muito específicos como uma pandemia, que acaba com a previsibilidade econômica”, comenta Garbe.
“O governo Dilma gastou muito e muito mal”, analisa o economista. “O endividamento público explodiu ao longo desse período, e a receita não aumentou na mesma proporção. Isso gerou as famosas pedaladas fiscais. O orçamento do Estado, apesar de grande, não é infinito.”
Os registros do desastre
Em 2016, a economia do país encolheu 3,3%, confirmando as previsões feitas pelo FMI. Naquele ano, o órgão previa que o mundo cresceria cerca de 3%. Ou seja: a produção nacional afundava, enquanto a do restante dos países prosperava.
Sem guerras entre nações ou pandemias, a inflação de agosto de 2016 estava em 8,97% para o acumulado de 12 meses — quase 2 pontos porcentuais acima do resultado mais recente.
Com a destruição de empregos gerada no Brasil, o país fechou 2016 com menos de 39 milhões de trabalhadores com carteira de trabalho assinada. O desemprego era uma realidade para, pelo menos, 12%.
Mesmo com a pandemia
Durante a pandemia da covid, esses números pioraram. A recessão e a imprevisibilidade fizeram com que os empregos formais caíssem para 36,7 milhões. A taxa de desemprego atingiu praticamente 15% em dois dos momentos mais dramáticos da crise sanitária: o terceiro trimestre de 2020 e entre janeiro e março de 2021.
Esses números também se mostram recuperados. Atualmente, o Brasil tem 42,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada e o índice de desemprego não chega a 9%.