A medida é inédita no mundo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou uma lei aprovada pelo Senado nesta quinta-feira (23) proibindo a importação de produtos obtidos a partir de trabalho forçado de uigures na província de Xinjiang, na China. Pequim critica o texto e ameaça retaliação.
O texto, aprovado por democratas e republicanos, fecha as portas às importações de produtos fabricados, total ou parcialmente, em Xinjiang.
O texto foi condenado por muitas empresas norte-americanas, que dependem de suprimentos chineses. Essas empresas expressaram o risco de interrupção do comércio, enquanto seus fornecimentos já estão penalizados pela pandemia, e multiplicaram as campanhas contra a lei recém-aprovada, mas foram chamadas à ordem pela Casa Branca.
Tal medida, no entanto, deve fazer a felicidade dos produtores norte-americanos de algodão e tomate, dois produtos proibidos pela nova lei de importação em relação à China. Os Estados Unidos estão entre os maiores produtores e exportadores mundiais destes dois produtos, ao lado da província chinesa.
A lei também visa um material que é utilizado na produção de painéis fotovoltaicos, o polissilício, do qual Xinjiang é um dos maiores players no mundo.
Essa unanimidade que aprovou a lei anti-trabalho forçado uigur no Senado dos EUA é bastante rara. Mas o texto bipartidário reuniu democratas e republicanos, todos a favor de uma política mais agressiva em relação a Pequim. Um consenso na denúncia da escravidão dos uigures e na defesa da liberdade religiosa desta minoria muçulmana. Joe Biden fez da rivalidade com a China o principal eixo de sua política externa.
Depois de muitos fracassos recentes em outros projetos de lei, a Casa Branca chegou a expressar, em sua declaração, um agradecimento a um republicano, o senador da Flórida Marco Rubio, que defendeu o projeto de lei no ano passado.
Do lado chinês, a reação foi imediata. Pequim acusa os Estados Unidos de "violar a lei internacional" e "caluniar" a China. O Ministério das Relações Exteriores da China exortou Washington a "corrigir imediatamente seus erros", sob ameaça de retaliação.
De acordo com a China, "residentes de todos os grupos étnicos que vivem em Xinjiang levam uma vida feliz e plena!", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, nesta sexta-feira (24).
A lei dos EUA “é uma interferência séria nos assuntos internos da China. A China deplora e rejeita com firmeza as acusações”. Se os comentários do porta-voz são tão virulentos, é porque a lei norte-americana terá consequências importantes: por exemplo, há poucos dias a gigante norte- americana da informática Intel pediu a seus fornecedores que evitassem produzir em Xinjiang.
É um pedido muito mal visto pela China, onde a maioria da população apoia a política do governo em Xinjiang, oficialmente apresentada como uma forte tomada de poder, mas que esconde os elementos mais sórdidos da repressão, como o internamento de milhões de uigures em campos.