Depois da Nigéria aparecem a libra (Egito), com queda de 35,2%; a libra sudanesa (Sudão do Sul) com retração de 29,9%; e o cedi ganês (Gana), que desvalorizou 20,9% em relação ao dólar neste ano.
O levantamento da Austin Rating é feito a partir dos dados da Ptax, a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central, indica que, na última semana, o Brasil caiu de sexto para quinto no ranking. “Mais de 70 moedas se desvalorizaram em relação ao dólar. É um fenômeno global”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco.
Os dados indicam que 21 moedas permaneceram com valores estáveis frente ao dólar, e outras 20 valorizaram. O topo do ranking de variação positiva é do xelim, do Quênia, com valorização de 22,1% no comparativo com o dólar, seguida do rublo (Rússia), com 7,3%, e da rupia (Sri Lanka), com 6,2%.
Segundo Alex Agostini, um dos principais motivos da desvalorização das moedas está relacionado aos juros nos Estados Unidos, que subiram muito e permanecem em nível muito elevado, sem perspectiva de redução. “Obviamente que investidores acabam migrando os seus recursos para títulos do tesouro norte-americano, que são mais seguros, mesmo tendo uma rentabilidade muito menor do que a do Brasil”, afirma.
Os conflitos geopolíticos também ajudam a explicar a situação, sobretudo os conflitos entre Rússia e Ucrânia e o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel. “Acaba elevando os ânimos também em nível global, já que existe uma preocupação de outras nações se envolverem, o que dá mais combustível para as desvalorizações das moedas em geral”, afirma.
O economista-chefe da Austin Rating afirma que, neste contexto, o Brasil acaba sendo mais impactado. “O Brasil, sendo um país emergente com o nível de taxas de juros ainda bastante elevado, é uma democracia e tem boas instituições, os investidores acabam alocando o recurso para cá ao longo do tempo, seja no setor produtivo ou no mercado financeiro. Porém, em momentos de crise, como a crise de confiança, os investidores retiram recursos do Brasil e levam para economias mais seguras, tais como os Estados Unidos, Europa, entre outras”, afirma.
Além disso, ele explica que o problema adicional que tem feito o Brasil disparar e ser ali a quinta moeda que mais desvaloriza no mundo frente ao dólar, é um grande risco de descontrole fiscal. “O governo já vem dando sinais de que não está muito disposto a ter um controle de gastos, né? O governo não apresenta nenhum plano de redução de despesa, nenhum plano de privatizações que seria a venda de ativos para tentar equilibrar o gasto público”, diz.
Paralelo a isso, ele questiona a elevação de gastos públicos, citando como exemplo o pé-de-meia, um programa de incentivo financeiro-educacional, e o aumento do salário mínimo. “A assistência social, ela é importante até pelas diferenças regionais que existem no Brasil, país que tem uma grave concentração de renda. Então é preciso o governo fazer o assistencialismo. O ponto é que só pode fazer isso se tiver as contas em dia. Se não tem, precisa vender ativos, privatizar. Ele [Lula] já falou que não vai. Até quer rever para reverter o que foi feito na Eletrobras. Então, é uma sinalização muito negativa para os investidores, para os empresários”, afirma o economista-chefe.
Ele afirma que o descontrole nas contas públicas, em um primeiro momento, eleva a inflação, depois, eleva a taxa de juros, e no terceiro momento, desacelera atividade econômica. “No quarto momento, a gente tem o risco de entrar numa recessão repetindo o que aconteceu em 2015 e 2016. A gente sabe que a economia a história pode se repetir e a gente sabe quais são as consequências”, afirma.