Foi enterrado ontem (16.03), no cemitério de Montenegro, no município paulista Jundiaí, o Cabo Anselmo, com 81 anos, uma das figuras mais controversas da História do Brasil. Anselmo, que viveu a maior parte da sua vida recolhido, foi enterrado com o nome falso de Alexandre da Silva Montenegro.
Para uns, traidor da esquerda. Para outros, agente duplo. O certo é que Cabo Anselmo dirigiu o movimento dos marinheiros que ensejou a intervenção militar em 1964. A Revolta dos Marinheiros, como ficou conhecido o movimento insurgente da Marinha que aconteceu de 25 a 27 de março daquele ano, colocou as Forças Armadas (FFAA) em estado maior de alerta. Três dias depois os militares assumiram o poder.
O sergipano Anselmo, com 21 anos, filiou-se à Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), criada em 25 de março de 1962, e, ainda ao final daquele ano, passou a comandá-la, ficando historicamente conhecido como Cabo Anselmo. A Revolta dos Marinheiros, movimento protagonizado pela AMFBN, aconteceu no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, no Arsenal da Marinha e em navios da Armada. Seu fim foi negociado pelo então presidente João Goulart. Mas já era tarde. As FFAA já haviam decidido assumir o destino da República.
Mas quem foi Cabo Anselmo: um traidor ou alguém que, assim como Geraldo Vandré, mudou de posição mediante o exercício de uma nova leitura da realidade nacional e de seus acontecimentos mais profundos? Ele agora não pode mais responder essa pergunta.
Cassado pelo Ato Institucional nº 1 (AI-1), de 9 de abril de 1964, Cabo Anselmo se exilou no México e, posteriormente, em Cuba, onde fez curso de guerrilha. Em 1970, ao voltar ao Brasil, entrou para o grupo guerrilheiro Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), sendo preso em 1971.
Segundo relatos, Cabo Anselmo escapou do regime militar fazendo delações que desarticularam a VPR e também a guerrilha Val-Palmares. As delações eram feitas ao delegado do Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) Sérgio Paranhos Fleury. Para outros, que atacam visceralmente a figura de Anselmo, ele já estava alinhado com os militares desde 1964.
Em 2018, uma matéria da revista Época apresentou Anselmo como palestrante de direita. Na ocasião Anselmo deu uma palestra a convite do grupo Direita São Paulo.