Mas essa variedade de informações pode deixar pais e cuidadores em dúvida: será que meu filho tem sintomas de TDAH ou são apenas comportamentos normais da infância?
Como o nome indica, o TDAH é um quadro de desatenção ou impulsividade hiperativa, que interfere nas atividades cotidianas e no desenvolvimento. O transtorno também pode ser do tipo misto – o mais comum na infância –, quando ambos os comportamentos ocorrem.
Um dos critérios diagnósticos para o TDAH é a presença de sintomas antes dos 12 anos de idade. Diferente de outros distúrbios mentais, o TDAH costuma se manifestar cedo, mas o diagnóstico em crianças é um processo complexo que requer uma equipe multidisciplinar e participação da família.
Somente um psicólogo ou psiquiatra habilitados podem fazer um diagnóstico preciso de TDAH. Fuja das listas e dicas compartilhadas nas redes sociais: um estudo canadense mostrou que mais da metade dos vídeos publicados no TikTok sobre o tema continham informações incorretas, por exemplo.
O manual da psiquiatria – o DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – lista uma série de sinais que podem levantar suspeitas quanto ao TDAH.
Essas manifestações devem durar no mínimo seis meses e impactar o cotidiano em mais de um ambiente – seja na escola, em casa, nas relações com amigos. Ou seja, se a criança se mostra desatenta na escola, mas não em casa, outra questão relacionada ao aprendizado pode estar acontecendo, mas provavelmente não se trata de TDAH.
Para que o quadro de desatenção seja confirmado, a pessoa deve apresentar pelo menos seis dos seguintes critérios:
O quadro de hiperatividade implica em outra série de critérios. Uma pessoa pode ser diagnosticada como hiperativa se seis ou mais itens da seguinte lista forem identificados:
O próprio DSM alerta que, para o TDAH ser diagnosticado, outras possibilidades de transtornos devem ser descartadas. Os sintomas não devem ser explicados por outro distúrbio psiquiátrico ou problema de aprendizado.
A dislexia e atrasos no desenvolvimento da linguagem podem ser confundidos com TDAH. Outras questões a serem avaliadas são a epilepsia, a síndrome de Tourette, a dispraxia, bem como depressão, ansiedade, autismo e problemas de audição e visão.
Antes dos quatro anos de idade, é difícil distinguir os sintomas de comportamentos totalmente normais. Por isso, o TDAH costuma ser diagnosticado a partir da entrada da criança na escola: trazer prejuízos ao cotidiano é outro critério necessário para estabelecer o quadro.
Os sinais tampouco podem ser causados por comportamento desafiador ou problemas de compreensão de instruções e tarefas.
Assim, é importante avaliar a relação das crianças com pais e professores, bem como o cotidiano da família antes de levantar a suspeita de um diagnóstico. É normal que crianças sustentem a atenção por pouco tempo, e o uso excessivo de telas e a rotina agitada são fatores do ambiente que podem diminuir essa capacidade de concentração.
Um primeiro passo para avaliar a existência do TDAH – e que traz benefícios para todos, independente de diagnóstico – é garantir que a criança tenha uma boa noite de sono, uma rotina estruturada e que passe tempo suficiente ao ar livre.
Vale lembrar que crianças são naturalmente cheias de energia, e tem suas próprias personalidades. Ser mais enérgica ou mais quieta não é, necessariamente, indício de problemas.
A investigação médica deve ser feita por uma equipe multidisciplinar, incluindo pediatra, psicólogo e psiquiatra. A avaliação deve ser extensa e incluir, além de questionários com a criança, entrevistas com os pais, professores e outros cuidadores próximos. Em um estudo da Universidade de São Paulo (USP), de 43 crianças diagnosticadas com TDAH, apenas três preencheram os critérios ao serem avaliadas pelas escalas específicas.
As principais linhas de tratamento para o TDAH são a terapia e a medicação. A Academia Americana de Pediatria recomenda a terapia e a orientação dos pais quanto ao comportamento das crianças como curso terapêutico preferencial.
Com essas ferramentas, a família pode ajudar a criança a se organizar e ter uma rotina fixa, com distrações limitadas. A dica é auxiliar a criança a se planejar, dividir tarefas grandes em blocos menores, e ser sempre claro e específico ao dar instruções.
Muitas pessoas com TDAH apresentam baixa autoestima devido à compreensão de que são incapazes de realizar determinadas tarefas. Cabe à família e à equipe que acompanha a criança fortalecer a autoestima dos pequenos, para que aprendam sua própria forma de realizar as atividades.
Medicações também podem ajudar, mas os efeitos colaterais do uso – em especial a longo prazo – devem ser avaliados pelo médico responsável.