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O autismo salvou minha vida, diz professora após descobrir o diagnóstico aos 25 anos

Publicada em 22/04/25 às 07:39h - 31 visualizações

Sílvia Melo, Catraca Livre


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O autismo salvou minha vida, diz professora após descobrir o diagnóstico aos 25 anos
 (Foto: Matheus Peres)
Giovanna Vlašić nasceu com a alma cheia de perguntas que o mundo ainda não sabia responder. Durante a infância, a diferença era uma constante silenciosa — como resultado: a exclusão na escola, o bullying e o isolamento. Diagnosticada com dislexia e superdotação, ela aprendeu cedo a traduzir o mundo à sua maneira. Mas foi só aos 25 anos, em meio à pandemia de Covid-19, que veio o diagnóstico que, enfim, dava sentido a tudo: autismo.

“Me enxergava diferente pelo fato de sempre ser excluída por falar ou pensar diferente. Mudei de escola nove vezes” conta Giovanna. 

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) não veio como sentença — veio como resposta, como identidade e um espelho que finalmente refletia quem ela era.

Após passar por crises severas, como períodos não verbal e episódios de autolesão, Giovanna procurou ajuda médica com o apoio da tia e do marido. Ela queria entender o motivo de seus comportamentos diferentes. Foi então que a resposta veio — e isso foi um divisor de águas.

“Nunca me vi tendo uma vida após os 20 anos, achava que algo dentro de mim era tão errado que eu jamais viveria tanto, mas descobrir o nome do que é diferente me fez entender que a crise não é uma morte, nem o fim, que o que eu tenho tem nome e se chama autismo. Isso salvou minha vida, meu casamento e finalmente pude ver que tenho muito o que viver ainda.”

Hoje, aos 28 anos, formada em Música e Língua Japonesa, Giovanna encontrou no idioma oriental e no universo dos jogos formas de se expressar, ensinar e construir uma comunidade acolhedora para outras pessoas neurodivergentes. Além de dar aulas de japonês online, ela também cria conteúdo nas redes sociais sobre neurodiversidade, acessibilidade e cultura geek, com o objetivo de tornar o tema mais leve e acessível para quem está começando a entender o autismo.

Um refúgio virtual para vozes neurodivergentes

Histórias como a de Giovanna ganham destaque por mostrar que representatividade e inclusão importam e transformam vidas.

Sua trajetória nas redes começou com postagens simples, feitas na tentativa de encontrar outros autistas adultos. O que veio a seguir surpreendeu: milhares de pessoas passaram a se identificar com seus relatos e a buscar acolhimento em seus vídeos no YouTube, que se tornaram espaços seguros de troca e aprendizado.

“O retorno é a coisa mais incrível. A menina que sofria bullying, que ninguém queria ouvir e que era completamente isolada, hoje ouve pessoas dizerem que suas falas mudaram vidas, que meus vídeos dão um norte e as fazem descobrir uma vida incrível e possível, apesar da condição.”

Mas o caminho ainda é cheio de pedras invisíveis. O preconceito, muitas vezes disfarçado de dúvidas ou falas capacitistas, ainda existe — inclusive dentro da família.

“Ainda é um tabu muito grande, sempre escuto frases como: ”deve ser levinho”. Ou até mesmo pessoas dizerem que era moda e que fui diagnosticada erroneamente”, desabafa.

“Isso é triste, mas tento conscientizar e não levar para o coração. Sempre busco mostrar primeiro a pessoa e depois o autismo para verem que nós somos seres humanos como qualquer outro, sem mais, nem menos.”

Os desafios invisíveis do autismo: quando o mundo grita alto demais

Para muitas pessoas com TEA, o dia a dia pode ser repleto de obstáculos que passam despercebidos por quem não convive com a condição. Entre os mais impactantes estão os desafios sensoriais, que tornam sons, luzes, cheiros ou texturas comuns em verdadeiros gatilhos de estresse físico e emocional.

Giovanna não é uma exceção. Ela também enfrenta desafios sensoriais diários, como a hipersensibilidade a barulhos intensos. A quebradeira de obras e reformas é que mais lhe causa crises. 

“Quando o vizinho vai fazer uma obra ou acontece uma na rua, isso me causa uma exaustão a ponto de eu chorar e dormir por horas a fio. É muito difícil, porque infelizmente é algo impossível de controlar”, desabafa.

“Já cheguei a me mudar de casa por causa de uma construção que parecia não ter fim.”

Essa hipersensibilidade auditiva, comum entre pessoas autistas, pode provocar desde desconforto até crises sensoriais severas, com sintomas como ansiedade, irritabilidade e até dor física. Isso acontece porque o cérebro de uma pessoa com autismo processa os estímulos sensoriais de forma diferente, muitas vezes de maneira amplificada — o que torna impossível “ignorar” barulhos, cheiros ou luzes incômodas.

Ensino com inclusão, não adaptação

Como professora neurodivergente e uma criança que enfrentou inúmeros desafios em sala de aula, Giovanna acredita que a inclusão no ensino precisa ir além da teoria. Para ela, é fundamental normalizar o uso de fones abafadores, brinquedos de estimulação sensorial (stim toys) e oferecer liberdade de expressão aos estudantes autistas, seja para resolver uma conta de matemática de maneira não convencional ou pintar com cores fora do padrão.

“Nós pensamos fora da caixa e ter nossa visão sobre algo na escola sendo validada e levada em consideração é incluir. E incluir é permitir que sejamos nós. Aprendemos com os típicos e os típicos aprendem conosco.”

Giovanna também critica práticas discriminatórias ainda presentes em muitas instituições de ensino, como tratar alunos autistas e com deficiência apenas como figuras simbólicas de inclusão. “Ainda há crianças neurodivergentes que são colocadas para desenhar enquanto os colegas estudam. Isso é capacitismo.”

No Abril Azul, campanha dedicada à visibilidade e compreensão do autismo, Giovanna faz questão de lembrar que pessoas autistas não são “anjos azuis” ou seres frágeis. “Somos seres humanos e não pessoas ingênuas e inocentes. Somos incríveis, mas somos pessoas”, conclui.




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