A proposta de pesquisa foi selecionada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e contará com financiamento da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, do Ministério da Saúde (MS). A análise será focada no CBD, que difere do THC - outra substância psicoativa capaz de gerar euforia e alucinações.
Segundo o coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Uece, Gislei Frota, a iniciativa considera o aumento de diagnósticos de TEA no mundo e o aumento na procura por tratamentos alternativos por parte de pais, cuidadores e profissionais de saúde, já que muitos quadros são acompanhados por irritabilidade, agressividade e até convulsões.
Além disso, a equipe viu necessidade de buscar uma análise imparcial e baseada em evidências sobre a segurança do CBD no tratamento. A pesquisa deve realizar uma revisão minuciosa e sistemática de estudos relevantes realizados pelo mundo e a avaliação de seus resultados.
“As pessoas usam os derivados da Cannabis de forma muito diversa. Às vezes, pegam o próprio CBD misturado com THC porque a extração não consegue separar, especialmente essas mais caseiras. Se a pessoa não tem dinheiro, ela mesma produz ou consegue com uma cooperativa, geralmente com as duas substâncias misturadas no óleo”, aponta.
O estudo, afirma Gislei, deve preencher as lacunas que a própria população busca, por vezes em fontes não confiáveis, como influenciadores na internet ou relatos baseados num uso pessoal. “Elas podem fazer daquilo uma generalização, o que pode ser um grande equívoco”, explica.
“Hoje, cada um prescreve concentração e dose do seu jeito. O estudo vai nortear os próprios médicos porque um dos objetivos é subsidiar informações para que o Governo possa adotar políticas públicas baseadas em evidências sobre o uso da Cannabis”
Segundo Gislei, há correntes de pesquisa que defendem o uso apenas do CBD; outras, a mistura com o THC. Logo, o estudo da Uece ganha relevância para identificar se somente o CBD vai ter algum benefício para a população com TEA.
“Nosso estudo é único no Brasil. Outros colegas, em outros Estados, farão estudos clínicos e com animais. São várias pesquisas para subsidiar as políticas públicas”, indica.
Os recursos financeiros do projeto serão aplicados em softwares, programas estatísticos, assistência técnica e consultorias. A previsão é que os resultados sejam divulgados em dezembro.
PALESTRAS EDUCATIVAS
Além das análises, o projeto da Uece tem duas fases de divulgação:
O professor Gislei informou que, por enquanto, um grupo de acadêmicos e profissionais de várias áreas tratarão sobre verdades e mitos no tratamento do autismo.
“Não queremos que esses resultados fiquem só em rede social, queremos chegar ao ambiente físico. Temos mapeadas algumas regiões e estamos procurando contato com as prefeituras. Se qualquer uma tiver interesse, pode nos contactar para a palestra de divulgação”, ressalta.